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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Americanos querem reciclar sua poesia com literatura de cordel da Paraíba

Eu com Pedrosa, Sander Lee e Clévia Paz na reunião sobre livro e leitura na Biblioteca Augusto dos Anjos, em Sapé (Foto: João Victor)

Se for mentira eu cegue! Críticos literários norte americanos vivem reclamando da falta de capacidade dos autores contemporâneos de produzirem obras relevantes como no passado. Para eles, acabaram-se os poetas e romancistas com talento suficiente para influenciar a imaginação dos americanos. Os leitores saudosistas americanos vivem esperando novos Walt Whitman, Edgar Allan Poe, Ezra Pound, Robert Frost, T.S. Eliot ou Allen Ginsberg. Enfim, a safra literária por lá está de vaca desconhecer boi e bezerro.

Não sei se procede, mas dizem que é por causa dessa decadência da poesia americana que eles querem conhecer a poesia de cordel da Paraíba do Norte, pra ver se pegam o molejo matuto de recriar palavras e tornar um poema engraçado, charmoso, inteligente e simples. Com o intuito de levar a poesia de cordel para os ianques, uma professora brasileira que mora em Miami convidou os cordelistas da Academia de Cordel do Vale do Paraíba para visitar o país do Tio San no ano vindouro. Ela garante estada para os poetas que conseguirem arrumar passagem.

Meu compadre Vavá da Luz será o coordenador geral dessa aventura do Pavão Misterioso que vai pousar naquele reinado, mesmo porque ele já conhece os Estados Unidos. Foi vendedor de carro usado em Nova Iorque na década de 1970. Consultando os arquivos do FBI, descobri que pelo menos um poeta não conseguirá passaporte. Trata-se de Olegário Fernandes, de Caruaru, Pernambuco, que andou falando mal da nação dos agiotas e idiotas comedores de cachorro quente e banha de porco. Uma estrofe do folheto que denuncia o domínio norte-americano:

Quinhentos milhões de dólares
Era essa a nossa reserva
O americano veio
E nela passou a régua
É o Brasil se acabando
E ele lavando a égua. 

Para garantir o espaço da literatura de cordel nas políticas públicas de incentivo à leitura, eu e meu compadre Sander Lee comparecemos à audiência pública para elaboração do Plano Estadual do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca da Paraíba, em Sapé. Lá, anotei presenças de Diana, do Grupo Mulheres de Augusto, Diogo do Clube do Leitor Sapeense, Professora Sinhá de Sobrado, Grupo Novos Augustos, Maria José com seu projeto de biblioteca na zona rural de Renascença, pessoal do Movimento Negro, escritor João Victor, Clévia Paz, Débora Lins e Luciano Marinho de Itabaiana, Romero Baunilha da Secretaria de Educação de Sapé, Jairo Cézar, Secretário de Cultura do Município, seu colega no Estado, Lau Siqueira, Cibelly do Sistema Estadual de Bibliotecas e outras pessoas que acreditam que “uma nação se faz com homens e livros” (Monteiro Lobato).

Eu e meu confrade Sander Lee ficamos muito anchos quando Lau Siqueira frisou que “o cordel cumpre importante papel na educação. Na França se estuda a literatura popular, e um dos caminhos do Plano Estadual do Livro é valorizar sua produção e difusão”. Mal sabe o gaúcho da fronteira que os poetas da Academia do Vale estão preparando suas malas cheias de folhetos para pelejar no país de Obama. É fazer algumas economias e, se tudo der certo, embarcar no asa dura nos meados de 2016, e lá vamos nós na raça, porque nordestino é arretado, raçudo e cabra macho. Vou vender folheto na porta da Casa Branca, com meu tradutor Vavá da Luz. Se não for eu cegue!


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