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sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015
Teatro bom e de graça
Ontem fui ver o espetáculo Henrique IV, no Teatro Lima Penante, com direção de Osvaldo Anzolin da Coordenação do Curso de Teatro do Centro de Comunicação, Turismo e Artes da Universidade Federal da Paraíba (CCTA/UFPB). A montagem é baseada no texto de Luigi Pirandello. A temporada termina amanhã, com entrada franca.
Conforme a sinopse, o enredo da peça mostra um personagem que é consequência das normas de uma sociedade que exige do homem uma imagem condizente com suas convenções. O ponto de partida é uma festa carnavalesca, em que um jovem, fantasiado de Henrique IV, sofre um acidente e, perdendo a noção da realidade, passa a acreditar ser de verdade o imperador que representava.
“No texto de Luigi Pirandello, no qual a peça se baseia, ele questiona em que medida se pode atribuir à loucura as condutas humanas e procura nos fazer refletir sobre o que somos e o que aparentamos ser.”
Recomendo.
Um causo de Timbaúba dos Mocós
Timbaúba
dos Mocós fica na Zona da Mata Norte de Pernambuco, minha cidade natal. Pois
sim, Timbaúba começou com um arruado no bairro de Mocós, onde nasceu minha vó
Biu, lugar que criou uma tradição na arte de produzir redes e tapetes em teares
manuais. Minha vó Biu foi redeira. Ainda hoje tem gente que faz redes em Mocós.
Esse artesanato já deveria ter sido tombado como patrimônio histórico imemorial
de nossa cultura. Mocó é um roedor muito apreciado na culinária nordestina. O
lajedo onde nasceu minha vó deveria ter muitos mocós. Meus parentes de Timbaúba
foram, indubitavelmente, predadores desses bichinhos.
Mas, o que eu quero contar hoje
é o episódio acontecido aí pela década de 1950. Minha cidadezinha produzia rede de dormir
e sapatos. Na cidade, quem não era redeiro, fatalmente ganhava a vida como
sapateiro. Meu pai, um sujeito excepcional, era gráfico. Vai daí que a cidade
recebia grande fluxo de visitantes no auge da indústria coureira, a maioria
trabalhadores das indústrias de sapatos em busca de oportunidade.
Situado na praça Carlos
Lira, centro da cidade, o salão do barbeiro Artur Curamba era o centro da
fofoca básica. Templo sagrado dos homens, a barbearia era o espaço onde os
machos se encontravam para prosear, falar da vida alheia e, eventualmente,
cortar o cabelo e fazer a barba.
Naquela manhã de
fevereiro, véspera de carnaval, muita gente nas ruas, freguesia esperando nos
bancos da barbearia, que não tinha muita frescura não.
Sem papo de marcar horário. O freguês chegava, pegava a fila no banco e
esperava a vez. Artur
Curamba chama o próximo:
--- O senhor, pode
sentar. Fique à vontade.
Um rapaz moreno, de
bigode, paletó branco e chapéu de palhinha.
--- Vai meia cabeleira? Quer
que bote gomalina? Quer com álcool, com talco ou quer que molhe?
E começou a falar das
bondades de Timbaúba, que era uma cidade pacata, clima bom, povo trabalhador e
mulher bonita.
--- O senhor, que mal
pergunte, vem de Limoeiro?
--- Sou do Recife.
--- E desculpando minha
curiosidade, é sapateiro solador ou apalazador?
--- Sou o novo promotor
público da cidade --- disse o freguês atrás da camada de espuma.
Artur Curamba mudou de
cor e de assunto. E estava nessa de caprichar no visual do doutor quando
adentra ao salão o cabra chato da cidade, um sujeito importuno feito piolho de
púbis, desses de botar chulé em pé de mesa.
--- Artur, tem muita
gente na minha frente? --- foi perguntando o antipático.
--- Tem aqui o cidadão.
--- Negro não é gente.
Todo negro me deve um tostão.
A ofensa fez com que
Artur Curamba mudasse novamente de cor, pressentindo a tragédia. O resto da
galera só esperava o mar pegar fogo pra comer peixe frito. O homem levantou da
cadeira do barbeiro, tirou uma moeda do bolso da algibeira e atirou no chão
cabeludo da barbearia.
--- Pegue a moeda e me
dê o troco --- ordenou.
O sujeito mofino quis se
desculpar, mas aquele não era definitivamente seu dia. Um soldado ia passando
na calçada, foi chamado pelo Promotor que ordenou a prisão do mané por desacato
à autoridade.
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015
Impressões de visitante
Baiano velho Dalmo Oliveira esteve visitando minha cidade,
Itabaiana do Norte. Gostou das pessoas, reparou no jeito do povo do interior
caminhar arrastando os pés, andou na feira na hora da xepa e ficou abismado com
a falta de promoção, comum em fim de feira. Quedou-se impactado diante do pútrido canal que corta a cidade. O jornalista e humanista Dalmo Oliveira não
entende a aceitação dos habitantes diante da realidade de uma cloaca em pleno
centro da cidade, um esgoto fétido a céu aberto, margeando uma favela
em plena pracinha ao lado da igreja, com seus barracos mal ajambrados, seus
bêbados, drogados e viciados de toda espécie convivendo na estrutura urbana
abandonada, caótica.
Tentei explicar ao baiano velho o insondável mistério do povo que
sobrevive diante de crimes ambientais de tal magnitude sem que haja qualquer
reação da sociedade. Era culpa dos mandatários, sempre os mesmos, com seus
vícios, seus podres esquemas. Itabaiana hoje é diferente da cidade onde morei
por trinta e três anos. Deformada, cortada por esgotos e infestada de barracos,
ela resiste como pode, mas ta difícil manter a personalidade que um dia mereceu
o epíteto de Rainha.
Na rua do antigo cabaré, uma senhora magrinha executava um ritual
de higiene, despejando uma lata de fezes no riacho. Depois, lavou as mãos na
água imunda e voltou para seu quartinho decadente. Sujeira por toda parte,
comércio caótico, lama na rua esburacada. Expliquei que aquela rua teve seus
dias de glória, era o mais esplendoroso baixo meretrício da região, lupanar que
vivia gloriosamente da grana dos barões do gado em faustosos tempos.
O baiano velho volta a martelar a mesma pergunta: “que impulso
leva um povo a se acostumar com o caos urbano?” Masoquismo puro, diria. Falta
de consciência cidadã, quase garanto. Baiano velho, observador que só fiscal de
gafieira, notou também o estilo de vida sem maiores angústias e temores, o
jeito elementar e franco das pessoas conviverem, quase sem medo. As casas com
as portas escancaradas, gente que pode viver com portas abertas, amigos
entrando e saindo, lares onde não parece haver solidão nem traumas.
Enfim, nada grandioso, algo terno e simplório como só sabe ser o
matuto. E aquela sensação de esfacelamento, de ruína, ficou como a impressão
maior do visitante, deterioração que passa despercebida pelos habitantes.
Dalmo mandou depois um trecho da poesia de Lira Júnior, no livro
“Labirinto de flores”:
O povo do lixo nasceu no lixo
mora no lixo y pensa que é lixo
o povo do lixo come lixo y acha que é bom
y quanto mais come
mais lixo é oferecido a ele
mais lixo é jogado pela janela do mundo.
Onde o povo do lixo mora
os valões da corrupção transbordam
y a imundície inunda seus barracos
penetra em suas peles y contamina suas mentes
vai para o coração y sai pela boca.
terça-feira, 24 de fevereiro de 2015
Nasce uma poeta
Primeiro, saber se a forma correta é poeta ou
poetisa, na linha do besteirol sem qualquer importância. As mulheres que
escrevem poemas gostam de ser chamadas de poetas, por qualquer motivo que eu
não alcanço, podendo estar ligado aos novos ventos da liberação feminina e da
igualdade entre os sexos. Dizem que dá mais dignidade ao ofício de produzir
versos.
Fica então como poeta a designação daquela
moça de Itabaiana, que escreve no Facebook. O nome dela é Renaly, filha de um
companheiro ferroviário, meu compadre Pedro Alves. Numa cidade sem horizonte
nenhum no que concerne à cultura, surge do nada um talento para manobrar as
palavras. É cedo para dizer que Renaly tem habilidade especial no mundo da
literatura, mas, pelos trabalhos que ela partilha nas redes sociais, dá pra
sentir a qualidade de sua arte. Não sei quem ela gosta de ler, quais suas
influências, se é uma dessas forças da natureza, autônomas. Sei que escreve
bem.
A poesia não está morta, nunca morreu. Só se
moveu para outras plataformas onde a luta continua. De que fala a poesia de
Renaly? Principalmente dos seus próprios sentimentos. Fala ao coração, diria um
lírico. Dick Corrigan acredita que “pessoas
brilhantes falam sobre ideias, pessoas medíocres falam sobre coisas e pessoas
pequenas falam sobre outras pessoas.” O poeta expõe as coisas, as ideias e as
pessoas. Quando invocado, o poeta não diz coisa alguma, e mesmo assim é
entendido. Ou não. A poesia de Renaly não é da nossa era ou em favor da
juventude, da mulher, contra a corrupção ou pela liberação feminina. É poesia e pronto.
As composições de Renaly começam
como uma tentativa de crônica intimista, descambam para o surreal e terminam
como um bom poema. Seu conteúdo afetivo, sensorial e conceitual transforma o
trabalho dessa moça em uma expressão de arte, onde o jogo de palavras remete à
poesia. Por isso a chamo de poeta, como poderia classificar de cronista, ou a
mescla disso tudo. Poesia tem aquele algo mais indefinível pelas palavras. É
feito a definição daquele pintor de paredes: “Arte é como o amor que a gente
sente, mas não sabe explicar o que é...”
Em linhas gerais, nas mensagens
de Renaly transparece um pessimismo difuso. Sua expressão artística adota, o
mais das vezes, o vocabulário da angústia. Reflexo desses tempos de crise e de
mudanças sociais? São as inquietações humanas, enfim, manifestadas por um
cérebro privilegiado. “A literatura é, em sua essência, uma pergunta. Se
resposta existisse, não haveria necessidade de literatura”, disse o escritor
egípcio Naguib Mahfuz, Prêmio Nobel de Literatura em 1988.
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015
Trem de fogo morto
Estação de Paula Cavalcanti |
A crônica de hoje é sobre
memória. É sobre a velha e saudosa rede ferroviária. De sua malha que
atravessava Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará, restaram apenas
escombros, estações abandonadas, trilhos e material rodante enferrujando em
ramais mortos, bilhões de prejuízo para o país. O vento forte da privatização
acabou com nossa ferrovia. Examinando bem, esse talvez tenha sido o mais
desastroso projeto de privatização de nossa estrutura de transporte. Para
atingir as metas do neoliberalismo, o Governo decidiu não mudar a gestão das
empresas públicas para torna-las mais eficientes. Privatizaram o patrimônio
público em meio à fraude e falta de controle, a partir de 1992. As empresas que
assumiram a administração das malhas ferroviárias não zelaram pela manutenção integral
das linhas sob sua gestão. Sucatearam os ramais pouco rentáveis, em desrespeito
aos termos da concessão.
O Governo Federal
continuou omisso nesses anos todos. Não fiscalizou, não exigiu o cumprimento
das obrigações das empresas concessionárias. Agora, o Governo está recebendo de
volta trechos da malha ferroviária rejeitados pelas concessionárias. Na
Paraíba, toda a malha encontra-se em estado adiantado de depreciação. O que o
Governo vai fazer com esse patrimônio? Não tem dinheiro para investir. Muitas
cidades ainda sonham com a volta do trem como projeto turístico. Falta
iniciativa, projetos consistentes e vontade política.
Mas eu queria falar
mesmo era de uma estação onde trabalhei, Paula Cavalcanti, no sítio
Entroncamento, município de Cruz do Espírito Santo, na Paraíba. Umas fotos do
Robinho França, filho do ferroviário e meu amigo Romildo, postadas no Facebook,
me remeteram aos bons tempos de Agente de Estação naqueles ermos. Quando lá
trabalhei, a vilazinha ferroviária já estava quase desabitada, a maré da
decadência da rede ferroviária esvaziava seus quadros e sua estrutura. Quando
me aposentei, Entroncamento já estava fechada. Da estação histórica, centro
social de um mundo que não existe mais, só lembranças. Os engenhos de açúcar ao
redor não são mais de fogo morto, porque apagaram-se até suas estruturas,
destronaram os coronéis senhores de engenho cujo cemitério é atualmente um
lugar de escombros. As casas grandes e demais patrimônios históricos da região
já tombaram. Só a estaçãozinha continua de pé, aguardando solitária o golpe
final do tempo e do descaso.
Meus cumprimentos,
respeito, lembranças e saudações aos velhos companheiros que por ali passaram,
à história que foi construída naquele pátio ferroviário de tantos anais e
homens fabulosos como o famoso Coronel Trombone, tio de José Lins do Rego,
lendário senhor de engenho que hoje vive nos livros do romancista de Pilar.
Este quase sexagenário enxuga uma tímida lágrima, mas assim é a vida, e
incompreensíveis são os percursos da História puxando uma composição de dois
mil vagões carregados de nostalgia pelos trilhos da saudade.
domingo, 22 de fevereiro de 2015
POEMA DO DOMINGO
Rádio
livre
Meu rádio livre
transmite músicas
muitas translúcidas
me dá notícias
retemperadas
conversa mole
fala fiada
cria invenções
me dá receitas
cura maleitas
com filtros mágicos
fala de amores
em tons de guerra
fotografias
de minha terra
massagens, mantras
mensagens, iras
cria verdades
conta mentiras.
F. Mozart
sábado, 21 de fevereiro de 2015
A ENTREVISTA
No dia Internacional da Língua Materna, hoje,
21 de fevereiro, finalmente vou entrevistar o compadre Valdo Enxuto, nosso
camarada Valdemir Almeida, conversa por duas vezes adiada por questões técnicas
na Rádio Tabajara da Paraíba AM. Se não houver mais nenhum imprevisto, às 14
horas deste sábado, dia 21 de fevereiro, vamos nos dar ao direito de tomar por
termo para a posteridade as reminiscências desse cidadão itabaianense, ícone do
esporte e da vida social de nossa terra, Itabaiana do Norte.
Valdo é um daqueles sujeitos que vêm ao
mundo para brincar, prosear e fazer amigos. Ótimo papo, excelente pessoa,
Valdemir Almeida é uma figura interessante a ser, também, abordada pelo meu
compadre poeta Sander Lee, outro conterrâneo pertencente àquela galera do bem
que marcou minha geração na terra do mestre Sivuca.
Por falar nisso, em um genial golpe
publicitário, vamos promover o maior baile do ano em Itabaiana, no dia 9 de
maio, com a volta do famosíssimo grupo musical “Os Brasas”, que hoje se chama “The
Ze’s”, liderado pelo Zé Maria Almeida Filho, formando com Vilinho, Orlando e Brasinha
um quarteto menos famoso do que uns caras integrantes daquela banda chamada “The
Beathe”, se bem que tão talentosos quanto. Essa galera vai dar uma força ao
Ponto de Cultura Cantiga de Ninar em uma festa de arromba, como se falava no
nosso tempo bom, com apoio do compadre Wilton Pontual, da Associação Atlética
Banco do Brasil em Itabaiana.
Portanto, de tico em tico e de teco em
teco, nossa conversa só não vai acabar em boteco porque eu parei com a “marvada”
e o poeta Sander Lee é agora um homem de Deus, entidade que não aprecia nenhum
tipo de drinque, a não ser o vinho devidamente consagrado da Santa Ceia, sem
direito a porre.
Para essa conversa com Valdo, que não serão
histórias de perdas e desencontros, mas de reminiscências boas e engraçadas,
convidamos os ouvintes a nos emprestarem seus ouvidos e se ligarem nas ondas da
Rádio Tabajara, às 14 horas de hoje. Pela internet, o link é:
O programa é uma produção da Rádio
Comunitária Zumbi dos Palmares, Sociedade Cultural Posse Nova República,
Coletivo de Jornalistas Novos Rumos e Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, em
parceria com a Rádio Tabajara da Paraíba AM (.1.110 KHZ). Retransmitido por
doze rádios comunitárias e pela Rádio Web Comunitária Porto do Capim:
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015
Meu livro ainda não nasceu e já está na vitrine
No lançamento do meu livro "Manoel Xudu, o príncipe dos poetas repentistas", em São José dos Ramos |
Vou lançar um livreto de
poemas chamado “Laranja-romã”. Como eu sou um cara alternativo, resolvi montar
uma estratégia diferente de vendas: a venda antecipada. Acho que o truque vai
viabilizar a edição do livro. Se não der pedal, o comprador não perde nada,
pois só pagará a bagatela de R$ 20 reais quando, e se receber o livro
autografado.
Detalhe: até agora já “vendi”
mais de 50 livros, bem mais do que as noites de autógrafo das quais participei,
excetuando o lançamento do livro “Manoel Xudu, o príncipe dos poetas
repentistas”, edição bancada pela Prefeitura de São José dos Ramos, onde
distribui mais de 500 livros em uma só noite.
Os cotistas são meus amigos,
e como tenho mais de mil amigos no Facebook, acho que vai dar pra chegar na
meta de 200 exemplares antecipadamente vendidos. Já entraram como cotistas
compadres de longe, outros amigos e amigas próximos. De Brasília, no escurinho
do cinema, Vladimir Carvalho encomenda logo dois exemplares. Só os parentes
ainda não compraram nada. Pior pra eles, que não terão seus nomes registrados
numa página do livro. Acho que é o primeiro livro a publicar os nomes dos seus
leitores. É um luxo ou não é?
Mas, voltando aos cálculos,
como o Facebook é lugar de amigos de fachada, a maioria, penso que poderei
pescar mais alguns futuros leitores entre amigos reais. Para isso, vou bolar
uma espécie de contrato de venda antecipada, ou compromisso de compra, ou algo
assim, para os futuros parceiros.
A data-limite para a
compra antecipada com direito ao nome no livro é 8 de março, daqui a 15 dias.
Os interessados em ajudar a parir essa obra de arte alternativa escrevam para
meu e-mail:
QUEM LÊ MEU LIVRO - Pádua Gomes Gorrión
Pádua
Gomes Gorrión, cordelista de Itatuba, membro da Academia de Cordel do Vale do
Paraíba, com meu folheto “Biu Pacatuba, um herói do povo paraibano”.
Gorrión é
graduado e especializado no ensino da língua espanhola. É um cordelista letrado
e ilustrado, poeta de bancada com estofo intelectual.
Tem o
poeta de loa, o cantador de repente, o poeta de estro, cavalgação e reinaço,
autor de romances de amor e putaria, o poeta de sangue, aquele que escreve
obras sobre cangaceiros e cavalarianos, o poeta de ciência, o poeta de estrada,
que escreve romances de aventuras e quengadas, o poeta de memória que fala de
vidas passadas e, finalmente, o poeta de planeta, especialista em romances de
visagens, profecias e assombrações, conforme a classificação do professor
Eduardo Bezerra de Meneses. Pádua Gorrión é tudo isso num só, cabra bom no
almanaque popular.
Meu salve
ao poeta de Itatuba, a quem vamos abraçar junto com os demais confrades na confraria
da Senzala, dia 27 de março, no Ingá de Vavá da Luz.
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015
O saxofonista Arnaud do Sax tocando em catamarã de
turista, na orla marítima de João Pessoa. Renda de músico chega a triplicar
nessa época de carnaval. Acabou, agora é afinar os instrumentos para o São
João. Roçado de músico tem uma sazonalidade biruta. Enquanto isso, nos meses de
“seca”, ficam sujeitos a tocar em bares sem qualquer tratamento acústico, a
preços vis.
Madame
Preciosa disse que passou o carnaval pulando. Em cima dos homens...
E aquele rapaz saiu fantasiado de prefeitinho. Não
agradou à galera.
Frase
infame do canalha Ameba, no carnaval: “Transar com uma mulher só é trair todas
as outras.”
Sonsinho, o corno trio elétrico: “atrás da minha
mulher só não vai quem já morreu!”
Madame
Preciosa esnobando, porque passou o carnaval todo com a churrasqueira acesa.
Uns compadres de meia idade formaram o Bloco dos
Pingolins Preguiçosos.
Uma
pessoa passa em média 11.862 horas no banheiro durante toda vida, segundo a
empresa norte-americana de desentupimento Roto-Rooter. Ou seja, um ano, quatro
meses e cinco dias no vaso sanitário. Está provado que essa vida é uma merda.
Um paulista disse que veio passar o carnaval na
cidade mais animada do Brasil: João Pessoa. E pra completar, com a noiva
menstruada. (Deu no Zé Simão)
No Piauí
tem uma boate chamada Mercado da Piriquita Usada. Madame Preciosa garante que a
ideia saiu de sua cabeça sexo-mercantil.
Madame Preciosa avisa que está muito gordinha, acima
do seu peso normal de 130 quilos. “Agora, quem quiser me comer tem que ser à
milanesa!”, debochou a velhota.
Feira de
pobre é na famosa hora da xepa, depois das 17 horas. Tudo com 80% de desconto,
mas é tudo 80% em decomposição. É a festa dos pobres, pois as salmonelas são de
graça!
Sonsinho
comprou um legítimo tapete persa made in paraguay e botou na parede, para
ninguém pisar.
Tem o
cara que passou raspando no telecurso 2º grau, fez faculdade de fim de semana e
olhe lá, mas exige que o chamem de "doutor".
Pobre que é pobre vai de Mercedes todo dia para o
trabalho. É a marca do ônibus, buzão, lata de sardinha, sucursal do inferno.
“O Brasil
não tem problemas, só soluções adiadas.” - Luiz da Câmara Cascudo.
Escrevi o primeiro poema com 15 anos de idade.
Depois disso, nunca mais me restabeleci. Vou lançar um livro de poemas com
exemplares previamente vendidos. Construir e vender poesia faz parte de minha
missão, castigo e penitência.
Secretário
de Cultura de Itabaiana, Luciano Marinho, trabalha para tombar prédios
históricos de Itabaiana. Merece os aplausos dos que têm fé na civilização, que
é uma capitalização de sensibilidade através de gerações, conforme pensava
Câmara Cascudo.
“Prefeitos que não gostam de cultura e odeiam bandas
de música, para mim não valem nada.” – Antonio Batista, Secretário de Cultura
de Juazeirinho.
O Brasil
foi um dos que mais avançaram na redução da pobreza e da desigualdade de renda
nos últimos 15 anos. Sete dos oito desafios do milênio foram atingidos, de
acordo com o Pnud no Brasil. A exceção ficou na meta para a saúde da mulher,
que trata da morte em decorrência de doenças relacionadas à gravidez e ao
parto.
“Quem é pobre, não tem gato; faz gato. Gato é animal
de rico, todo fresco, faz cocô na caixinha, não rosna, não late, não toma conta
da casa, toma conta do sofazinho que a dona rica comprou. Agora, fazer
gato...isso é muito coisa de pobre!” – Ameba, o escroto.
“Programa
de Aceleração do Crescimento é um pacote de Viagra”. Sonsinho, o sem noção.
Pastor Ameba vai fundar a Igreja Enriquecer em
Cristo. Ao lado, abrirá uma loja de artigos religiosos e sex shopping gospel.
“O sonho
de toda onça é ter um casaco de pele de puta.” – Ameba, o ecológico radical
debochado.
DICIONÁRIO DO SONSINHO – Depressão: panela boa pra
cozinhar feijoada.
Grande
parte da população do Brasil quer a redução da idade penal. Isso poderá ser
mais um ingrediente na grande fábrica de marginais que é o nosso sistema
prisional. Em vez de diminuir, aumentaria a violência.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2015
Última Hora de Zé Dudu
Vice-Prefeito José Bandeira anuncia blocos vitoriosos no carnaval de rua: escolas de samba, tribos indígenas, bois, ursos e demais troças carnavalescas. Presentes na foto: Arnaud Costa (à esquerda, sentado), Ivo Severo, Zequinha Bandeira lendo a relação dos vencedores, Prefeito Antonio Santiago e à direita o carnavalesco Nicó.
Fotos do blog www.itabaianapbmemoria.blogspot.com
Nas décadas de 60/70/80 reinava absoluta em Itabaiana a Escola de Samba Última Hora, do carnavalesco Zé Dudu. Muito antes dele, nos anos 20, outro carnavalesco se destacava em Itabaiana. Era o saxofonista Severino Rangel, que depois virou Ratinho, da dupla Jararaca e Ratinho. Os dois ainda hoje botam o mundo pra pular e cantar ao som da marchinha “Mamãe eu quero mamar”, imortal e atemporal hino dos carnavais.
Tenho certeza de que dessa ninguém sabia: um dos autores da marchinha “Mamãe eu quero mamar” é esse artista itabaianense que anda merecendo um maior reconhecimento de sua terra natal. O povo, na sua franqueza e veia debochada, anda dizendo que a marchinha é o hino oficial de certo rapaz, filho de certa ex-prefeita.
Mas eu quero falar é da Escola de Samba de Zé Dudu, onde fui ritmista. Abram alas pra nossa Rainha Sônia, alegre e graciosa porta-estandarte da escola de samba do Cochila, Jucuri, Maloca e adjacências. Neste carnaval insosso de 2011, onde a cidade de Itabaiana recebe com vergonha uma decoração que “parece mais uma lapinha pobre em fim de festa”, segundo uma internauta no blog do Marconi, a Toca do Leão publica estas fotos da Escola de Samba Última Hora e flagrante do palanque oficial onde o então prefeito Dr. Antonio Santiago entrega troféus às escolas de samba, troças, ursos e tribos indígenas vitoriosos no carnaval de rua, que já foi um dos melhores do interior da Paraíba.
O vice-prefeito, Zequinha Bandeira, foi um genuíno carnavalesco e desportista. O prefeito Santiago não era muito chegado a essas manifestações populares, sujeito reservado que sempre foi, mas estava lá, no meio do povo prestigiando a cultura popular da cidade. Não tenho dúvidas em considerar tal atitude como uma prova de que os políticos de antigamente respeitavam sua comunidade. Hoje, os sórdidos caminhos da política nos deixam órfãos de verdadeiros líderes.
(Publicado em 5 de março de 2011)
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015
PRÉ-VENDA DE LIVRO
O lance é
o seguinte: estou com um livro de poemas pronto para ser publicado, mas falta
grana. Meu plano é vender por antecipação os exemplares, pelo menos 200 deles,
sendo que o comprador só pagaria pelo produto ao receber, pessoalmente ou pelo
correio. Cada exemplar vai custar apenas R$ 20 reais.
Essa
publicação em baixa escala é viável no esquema de pré-venda. Para isso estou
fazendo uma sondagem com meus compadres e comadres que desejarem comprar um
livro de poemas autografado. Isso requer compromisso real entre as partes. Não
precisa depositar nada antes de receber o livro. Só quero que você responda a
essa mensagem com seu nome e endereço.
LARANJA-ROMÃ E OUTROS POEMAS – Fábio Mozart
Editora
SARVAP – 78 páginas.
“Mozart desafia a poesia.
Duvida de sua existência, mas também a endeusa. Saca sua fluidez, seus ritmos e
ritos. Toca sua casca, chupa sua essência, vomita o bagaço. A poesia de Fábio
Mozart lembra uma laranja-cravo, cheia de gomos e aromas. Com bagos unidos, mas
diferentes. Mas, afinal, o que é mesmo “poesia”, senão a arte de embrulhar
palavras e vendê-las no mercado público da sensibilidade humana? “ – Dalmo Oliveira
domingo, 15 de fevereiro de 2015
POEMA DO DOMINGO
"Pierrot" - Picasso (1918) |
HAIKAIS DO CARNAVAL
Eu não tolero
Órfão cantar
“Mamãe eu quero”
Não leve a mal
O grito torto
É carnaval.
Na avenida
O bloco abriu
Velha ferida
Uma canção
Para bailar
Na contramão
Não fique triste
Que o carnaval
Já não existe
A vida é um carnaval
Ou para o bem
Ou para o mal
Louco ou normal
O corpo é chama
No carnaval
É ópio social
Mesmo sem éter
É carnaval
Que não se esqueça:
Não perca o bloco
Nem a cabeça.
A festa dos sentidos
E todos nus
Porém vestidos
O mundo acaba
Na quarta-feira
Na sua taba
A fé se evade
No baile doido
Dessa saudade
Olhando o espelho
Seu tom azul
Virou vermelho
Viajar sem planos
Em mares bêbados
Álcool oceanos
Bêbado batuca
Dança engraçado
Haicai e não machuca
F. Mozart