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segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Domingo com Stanislaw


Ontem foi dia de passar o domingo com meus pais em Sapé, almoçar a fava verde e levar um lero com o patriarca e a matriarca. A programação é simples: leio o jornal para seu Arnaud Costa, boto na vitrola uns discos de seresta, depois escuto as velhas histórias de quando era animador cultural e social na sua Itabaiana do Norte. Durante a sesta, acabei de ler o “Arqueologia”, poemas de Marcus Alves, e “Dois amigos e um chato”, do sempre prazeroso cronista Stanislaw Ponte Preta, “o melhor dos humoristas brasileiros de todos os tempos”.

Antes de entrar no mundo de Ponte Preta, ouvi do meu pai Arnaud a versão da origem do nome “Nó cego” com que batizaram o mais famoso bloco de carnaval de Itabaiana. Foi porque o acadêmico de medicina e aprendiz de cirurgião Dedé Paú ajudava Dr. Aglair no Hospital São Vicente de Paulo. Na ausência deste, chegou uma senhora precisando fazer uma operação urgente. Dedé fez o serviço direitinho, só se atrapalhou no final da cirurgia, porque não sabia dar o tal do nó cirúrgico. Na dúvida, deu um nó cego. Depois, ao contar o episódio para a turma, resolveram botar o nome de “Nó cego” no famoso bloco de arrasto fundado pelo próprio Dedé e outros foliões.

O livro de Marcus Alves tem 60 páginas, cada uma com poemas de três ou quatro estrofes. Coisa para ser lida na fila do banco ou durante o engarrafamento das tardes de sexta-feira na saída de João Pessoa para Campina Grande. Biscoito fino esse livrinho do doutor Marcus.

Stanislaw Ponte Preta escreveu muitos livros de crônicas saborosas, carregadas de humor crítico e demolidor. Ao morrer, em 1968, aos 45 anos de idade, deixou nove livros, dos quais já li sete. No “Dois amigos e um chato”, reuniram as melhores crônicas de Stanislaw, cujo verdadeiro nome era Sérgio Marcus Rangel Porto.

As pérolas de Stanislaw vou revelando aqui em pequenas doses, em homenagem aos meus leitores inteligentes que me honram com sua preferência. Começa com a história do homem que vendia flores. Era um rapaz sensível: doava flores às mulheres bonitas nos bares e deitava buquês ao lado de cadáveres estirados no chão, nos subúrbios cariocas. O conto é um dos trabalhos líricos mais qualificados do escritor.

Segue com o problema do homem que compra uma caixinha de música para dar de presente à filha e fica com vergonha quando a caixinha começa a tocar no ônibus, no elevador e outros locais insólitos, revelando ao mundo seu espírito lírico. “O diabo é que todo mundo pensa que sou um cínico; ninguém acredita que sou um sentimentalão que não aguenta uma gata pelo rabo”, escreveu ele.

O conto que dá nome ao livro fala de um sujeito que carrega o estranho nome de Flaudemíglio. Esse enredo não vou contar, para ter o gostinho de ver você comprar o livro no Sebo Cultural de Heriberto e rir sozinho na sua rede velha ou deitado na cama.

“A vontade do falecido” é um conto mais conhecido do que a vinheta do Jornal Nacional. Trata-se do caso do homem que morreu e mandou botar toda sua riqueza em notas de cruzeiros no caixão. O sobrinho esperto troca a bolada por um cheque ao portador.

Vou parar aqui, com a narração do cara que foi arrolado como testemunha ocular de uma briga de casal. Levados para a delegacia, o casal se reconcilia e a testemunha quase acaba presa por atrapalhar a vida íntima dos dois pombinhos. Fico devendo o restante do livro. É só você se ligar na Toca que todo dia eu conto um pouquinho desses contos e crônicas do cara que criou moda e ainda hoje é imitado.

Boa semana para os compadres e comadres.


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