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POEMA DO DOMINGO
Desenho de Léo Lago
Duelo de Deus e o Diabo no reino da poesia
Numa cena avessa e distorcida
Eu sonhei com o fim, o desenlace,
Eu vi Deus e o Diabo, face a face,
Eles dois duelando na avenida
Por esta vagabunda e torpe vida
Esgotaram o arsenal completamente.
Escapei da chacina e virei crente
Sem prever que depois eu pecaria
O pecado mortal
da fantasia
Condenando-me ao
breu eternamente.
Peço aos céus
que me puna docemente,
Não com a pena
imposta a Galileu,
Cientista do sol
que descreveu
Lei dos corpos,
punido cruelmente.
Se tivesse em
verso complacente
Dito claro que a
terra é quem se move,
Essa arte
poética que socorre
O artista que
dela tem domínio
Barraria o
soturno vaticínio
Que das bulas
papais, cruento, escorre.
No duelo de Deus
e do Diabo
As esgrimas
terçavam pura arte,
Indo e vindo em
Vênus e em Marte
Com o Divino
ganhando a guerra ao cabo.
Satanás empenhou
até o rabo,
Mas perdeu por
pobreza do seu verso,
Pela força da
língua submerso,
Humilhado na
estética divinal,
Imolado na pedra
filosofal,
Sucumbiu com seu
estro vil, perverso.
F. Mozart
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