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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Contribuição ao tratado geral dos chatos



Guilherme Figueiredo demonstra no Tratado Geral dos Chatos: 'A humanidade está chata, o Brasil está chato, a chatura cresce a olhos vistos e se espalha sobre nós. Não liquidaremos com a chatura, mas aprendamos a conhecê-la em todas as suas múltiplas facetas, pois assim estabeleceremos as regras de convivência suportável que nos reconduzem à proposição inicial: 'O chato não se chateia'.

“Não quero chato com papo chato em ambiente chato nas horas chatas” (Clarissa Correia)

O chato mala sem alça ri da própria piada sem graça. Se você perguntar como ele vai, o chato passa a contar toda sua vida miserável. No ônibus, fica assoviando. Na rua, cantarola enquanto ouve walkman. Fala aos berros no celular, em público. Convida-se pra ir na tua casa filar a merenda e, se brincar, fica pra dormir.

Eu mesmo sou muito chato porque acho que quase todas as pessoas são chatas. Esse modo de julgar deve ser reflexo de minha própria chatice. Tem coisa mais pedante do que um chato no velório? No meu enterro, vai ser assim: morreu, chorou, enterrou. Não vou querer velório pra não ter que aturar chato contando piadinha sem graça, fingindo sentir muito, filando meu café com bolacha e queijo. Chato fora. Velório já é uma coisa muito chata, e com chato profissional, é pro sujeito morrer novamente, de raiva. Vou contratar um grupo de gaiatos pra vaiar o sujeito hipócrita que afirmar, no meu velório: “era uma pessoa maravilhosa.”

Encontrei um chato num dia chato ouvindo dupla sertaneja, que por sua vez é o tipo de música mais chata do planeta. Existem dois tipos de pessoas chatas no mundo: os chatos propriamente ditos e esse cara.  Não tem o chato de galocha? Aliás, por que os chatos insistem em usar galocha, um calçado totalmente ultrapassado? Claro, porque são chatos. Os chatos geralmente são demodê. Ser chato sempre foi cafona. O comportamento socialmente desagradável é típico dos caras resistentes, como esse calçado muito usado nos dias de chuva, nas décadas 60/70. O chato é eterno. Muitas vezes, o chato entrava na casa das pessoas de galochas, molhando e sujando toda a casa do anfitrião, que com certeza ficava desagradado com tal demonstração de desconsideração. Nos dias de hoje, os chatos de galochas não estão necessariamente calçados com galochas, mas a expressão continua sendo usada para descrever pessoas com atitudes desagradáveis, disse-me alguém entendido no assunto, por sinal um sujeito muito do chato.

Não por acaso, botaram o nome de “chato”, num piolho incômodo e inoportuno que gosta de se reproduzir no púbis de chatos ou não.

Chatice também é cultura: Em inglês, uma pessoa chata é classificada como boring ou annoying. Tudo isso eu sei porque sou um chato de Facebook, o paraíso dos chatos. A blogueira carioca Fernandinha, que deve ser um pé no saco, mandou ver:

“Impressionante como existe gente chata no mundo. E o facebook só potencializou o poder de chatice dessas malas. O que leva alguém a postar "Bom dia sexta-feira!"? Tudo bem que sexta-feira realmente é um dia muito legal, mas o que passa pela cabeça dessa pessoa? Será que ela acha que ninguém ali sabe que é sexta-feira e quer dar a notícia em primeira mão? Ou é só uma forma super original de dizer para o mundo o quanto ela gosta desse dia? Nossa, que informação relevante!

E aquele cara que posta foto do prato de comida que vai almoçar, do trânsito em que se encontra, do pé machucado, da praia no domingo? Quem quer saber disso, Jesus? Não passa de um registro do quão mala esse ser é.”

Ela sai reclamando dos chatos que ficam invadindo seu mural para publicar troços esquizofrênicos, fotos de gatos cagando, trocadilhos infames e mensagens babacas. Fora os evangélicos febris e os católicos imbecis. No fim, ela detona: “Não estou de TPM, mas o facebook só confirmou aquela velha teoria: as únicas coisas que nunca vão acabar é flamenguista e gente chata. Exceções à parte, isso é até uma redundância.”



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