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quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

No escurinho do Cine Ideal


As mentes libidinosas que pensaram que eu iria escrever sobre namoricos e galinhagens nas sessões do velho Cine Ideal de Itabaiana, estão redondamente e quadradamente enganados. Aqui se tem respeito e seriedade.
Mas antes, pra descontrair os nervos e intestinos, vou contar uma do velho Ameba que foi assistir à sessão dupla no Cine Ideal, dia de terça-feira, o cinema lotado, calor dos infernos, e o casal sentado na primeira fila de cadeiras vendo a série “O califa de Bagdá”. Em dado e certo momento, a namorada do verme, empanzinada de gases, deixou escapulir um peido daqueles de estrondar, mesmo na hora em que o bandido da série disparou seu mosquetão. A operação disfarce foi quase perfeita, mas Ameba não engoliu:
--- É, a zuada foi a mesma, agora quero ver a catinga!
Dito isso em alto e bom som, a cachorrada que atendia pelo nome de plateia caiu na risadagem, que o povo que ia ao cinema nos dias de terça-feira era chegado a uma canalhice. Um senhor que estava ao lado do casal parasita amebiano mostrou-se indignado:
--- A sua namorada peidou na frente de minha mulher!
Ameba, educado:
--- Perdão, eu não sabia que ela queria peidar primeiro.
Nelson Soldado, que era um misto de segurança e “lanterninha” do cinema, já se preparava para botar o casal pra fora, no intuito de pôr ordem na esculhambação que já se formava. Uma das missões de Nelson era empatar namoros muito salientes no escurinho, a bem da disciplina e da moral, conforme explicava um cartaz na entrada: “Não faça do seu namorado um tarado; a vítima pode ser você”. Voltando ao caso do peido sincronizado, Ameba foi aconselhado a se retirar com sua namorada intestinalmente indecorosa. Nisso, ouviu-se a chacota de Zé Amâncio, conhecido trocista frequentador do cinema e eterno candidato a receber cartão vermelho do soldado Nelson:
--- Tem duas classes sem prestígio: soldado de polícia e rapariga.
Nelson Soldado esqueceu de Ameba e correu pra expulsar Zé Amâncio do recinto, sob vaias e apupos gerais da geral e da arquibancada. Quando a situação ficou preta, verde e amarela, o filme foi interrompido e as luzes acesas para botar ordem na casa.
Chegando na última fila de cadeiras, Nelson vê um sujeito sentado, com uma perna na cadeira da frente e a outra na cadeira do lado, a cabeça jogada pra trás atrapalhando os que tentavam se acomodar.
Nelson, irônico, para o rapaz:
--- Amigo, você ta muito folgado. Não quer uma cachacinha, uma cervejinha? Ou, quem sabe, mais cadeira pra se espichar um pouco mais?
E o esparramado:
- Olha! Querer eu até quero, mas primeiro chama uma ambulância porque desde a primeira sessão que eu cai lá de cima do balcão...

* * * 
Agora, falando sério: o livro tem o título de “Pedras na lua e pelejas no Planalto”, de Carlos Alberto Matos, com a biografia de Vladimir Carvalho. Estou lendo esta obra, e nada do que está escrito aí em cima faz parte do trabalho. É um material de alto nível, onde Vladimir conta desde sua infância em Itabaiana, passando pelas aventuras durante o regime militar, até suas produções no audiovisual, sempre com um viés na sua região, na sua terra natal, Itabaiana do Norte.
Este livro estará à disposição para empréstimo na Biblioteca Comunitária Arnaud Costa, que vai armar barraca na feira de Itabaiana no dia 4 de fevereiro, pelo projeto “Troca-troca”.


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