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domingo, 3 de novembro de 2013

Plantando poesia nos sepulcros caiados

Agenor ao lado do prefeito, que declama seus versos

O poeta Agenor Otávio vem insistindo em mostrar-se de tal maneira operário do caráter subjetivo da arte que chega ser comovente. Um poeta que mantém em justa tensão aquele sentimento de êxtase até nos mais pobres espíritos. Se o trabalho dele tem qualidade literária, pouco importa, que já ganhou dimensão maior. É um escritor popular que compõe poesia acima de qualquer pretensão sobre o uso estético da linguagem. Ele é a própria poesia andando pelas ruas, colocando cartazes nas praças, anunciando seu trabalho baseado na irrealidade das coisas puras.
Conta-nos sua sobrinha, a jornalista Socorro Medeiros, que Agenor saiu em meio aos túmulos do cemitério de Itabaiana, nesse dia dos finados, abordando cada defunto amigo e deixando em sua tumba um versinho saudoso. Acabou humanizando o ambiente cheio de energias negativas da falsidade e dissimulação, próprias desses eventos hipócritas onde muitos se juntam para fofocar e acender velas de piedade aparente. O poeta procura obsessivamente o tempo perdido daquela Itabaiana lírica, de cidadãos probos e inteligentes, poetas e cronistas, líderes de ética socialmente aceita, homens e mulheres que hoje dormem em seus túmulos, finalmente desligados de suas angústias e alegrias. Esses extintos seres em seus encantados recantos abriram um sorriso comovido no dia de finados para ler a composição de Agenor Otávio, um poeta que tem verdadeiro carinho e compreensão pela essência de sua Itabaiana de tempos que não voltam mais.
Depois, o poeta foi para a festa das crianças que o prefeito Toinho Meu Querido mandou fazer, mesmo fora do prazo. Feito menino inocente e cândido, Agenor desfilou sua vistosa postura de mensageiro da poesia naquele redemoinho de palhaços, crianças, políticos e bajuladores de todos os níveis. Marcado por um profundo sentimento de ânsia pela simpatia popular, o prefeito Toinho abraça todo mundo, beija a garotada e acaba por declamar um poema de Agenor. O narcisismo do poeta, por sinal inerente a todos os artistas, chegou ao seu mais alto nível, querendo afirmar sua inspiração lúdica e finalmente ser reconhecido.
Poesia é assim: faz efeito tanto na casa dos mortos como nas festas dos muito vivos. 

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