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quarta-feira, 20 de novembro de 2013

“Cabocolinhos” de Itabaiana




A foto é de Luiz Saia, fotógrafo oficial da Expedição de Mário de Andrade para registro das manifestações folclóricas do Nordeste em 1938. Mostra um grupo de caboclinhos dançando no carnaval de Itabaiana, em tempos muito recuados.  Os “cabocolinhos” fazem suas evoluções na Praça Epitácio Pessoa. Achei massa o figurino da tribo: meiões, cocares de penas de peru, perucas brancas, sapatos brancos, saias de penas, calções e camisas de mangas compridas, certamente de cores fortes e de lamê. A orquestra composta de caixa, maracá e flauta, os caboclinhos marcando o ritmo com suas flexas percussivas. 

As tribos indígenas tiveram forte presença nos carnavais de Itabaiana. Os de minha geração lembram dos morubixabas João Guarda, Mocó, Zé Leiteiro, Josa dos Assombrados da Floresta e o grande Agostinho, um pretinho de metro e meio de altura que se agigantava com sua tribo, fazendo ricas evoluções, encenando combates com seu porta-estandarte, os pêros (crianças), os caboclos-de-baque entrosados na forte coreografia ao som da inúbia, que era um pequeno flautim de taquara, instrumento do qual Risadinha foi mestre absoluto. Mestre Agostinho parecia ter molas nas pernas, tal a agilidade na dança dos caboclinhos. 

Um dos mestres de caboclinhos mais originais que tive a oportunidade de ver foi Josa dos Assombrados da Floresta.  Queria botar Mestre Josa no meu livro “Artistas de Itabaiana”, mas não consegui o apoio de sua família. Josa não morreu, no entanto não brinca mais carnaval, afastou-se do mundo, isolado na sua barraca na beira da linha. Eu cito o cacique dos “Assombrados” no meu livro “A Voz de Itabaiana e outras vozes”. Ele era um mestre seguidor da Pajelança, culto indígena da linha do Catimbó. Sua inspiração mística dava um toque especial ao desfile da tribo.  Nessa linha, os caciques desfilavam incorporados por espíritos de caboclos. Era bonito ver o cacique Josa sendo “cavalo” do caboclo Pena Branca, fazendo teatro nas ruas com seus caboclinhos imortais. 

Viva os caboclinhos, e viva a cultura popular do Nordeste!

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