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terça-feira, 26 de novembro de 2013

A benção, dona Fafá!

Quando eu era menor, morei vizinho a ela. Éramos todos de menor, todos representações do diabo, cuja exorcização é confiada à ação educativa. Brincávamos de escola. Ela era a professora, eu o aluno. Na nossa pedagogia, não existia o ideal do “bem”. Era só imitação da estrutura pensada pelo adulto. Incluindo a posição de poder da mestra. Nós éramos relicários de valores e aprendizes de feiticeiros.

Fiquei adulto e saí da escola. Não quis mais estudar. Via na educação uma ameaça à minha liberdade. As exigências da cultura formal, isso me fez afastar da escola. Ela, ao contrário, tomou gosto pela poderosa instituição escolar, transformou-se gerente do processo educativo de várias gerações. E das boas. Nasceu pra realizar o rito da iniciação desses diabinhos, aprendeu a comandar a escolaridade obrigatória segundo os modelos pedagógicos ideologicamente definidos pelas classes dominantes. Eu, virei anarquista, inimigo dos agentes políticos da reprodução da sociedade de classe, entre os quais os professores.

Essa professora hoje é uma espécie de ícone da educação na minha terra, perpetuando comportamentos, valores e saberes da sociedade. Como alfabetizadora, é comparada a outro imenso nome da educação aqui, que é a professora Marieta Medeiros. Não é pouca coisa. Um dia ganhará o reconhecimento por ser diferenciada, uma mestra vocacionada para essa missão de adestrar meninos para entrar no sistema.


Seu primeiro aluno, eu fui um fracasso. Virei marginal, no sentido de que atento de alguma maneira à ordem vigente, pois não quis estudar, não tenho diploma de nada. Todavia, reconheço seus méritos por integrar tantos diabinhos ao “paraíso” da cultura formal. Dona Fátima Nascimento, minha amiguinha Fafá, irmã e parceira da infância comum tão longínqua, tenho certo orgulho de ter sido seu discípulo nas nossas escolinhas da Rua Santa Cecília onde moravam nossos pais. Vi desabrochar seu talento de educadora, o gosto pelo poder docente. Competência técnica, seriedade no seu trabalho e comprometimento com o ensino, isso é pra poucos mestres. Entre eles, dona Fafá, minha primeira professora. 

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