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sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Abram alas para o professor Luiz Antonio



Luiz Antonio locomove-se com dificuldade nas calçadas de Itabaiana, tomadas por automóveis e motos


Luiz Antonio esteve conversando comigo ontem pelo Facebook. Ele é professor na Escola Estadual João Fagundes de Oliveira, em Itabaiana. Pela conversa, noto que esse rapaz se destaca do mestre comum, porque gosta do que faz e tem aquela ânsia de produzir e espalhar conhecimento. No momento, Luis está lendo o livro "O Teatro em Itabaiana - Da União Dramática ao GETI", do PhD Romualdo Palhano, filho adotivo de Itabaiana, mestre que tem uma bibliografia interessante sobre a história desta terra e que precisa ser lido pelos conterrâneos. “Estou encantando. O livro me mostra uma cidade onde vivo há quarenta anos a qual não conhecia”, confessou o professor Luiz.

Luiz Antonio falou das manifestações ocorridas ontem na cidade, citou o colega Fred Borges como um dos cidadãos que ajudaram a organizar o evento, indo pessoalmente de escola em escola convidando os alunos para mostrar a cara e lutar pela implantação do Instituto Federal de Tecnologia, equipamento que está ameaçado de não sair por causa de querelas jurídicas e burocráticas.

 Depois falamos sobre literatura. O professor lamentando a ausência de iniciativas para formação de leitores nas escolas públicas. Sem leitor, não teremos cidadãos conscientes. Sem isso, não se pode compreender o mundo que o cerca, impedindo as mudanças. A leitura dá discernimento, expressão que chega perto do tal “óbvio ululante” de que fala Nelson Rodrigues. Para Luiz Antonio, os jovens não conhecem o prazer da leitura um pouco por culpa dos próprios professores que não os incentivam. “Hoje em dia, os resumos de obras literárias nas escolas são feitos a partir de filmes baseados em livros dos grandes autores”, disse o professor. O aluno passa longe dos livros. Isso é trágico.

Luiz Antonio é um sujeito que entende o espírito da coisa. Isto é, entendeu a vida e passou a viver conforme a música que tocasse. Paraplégico, ele aprendeu a ultrapassar barreiras, tirar de limpo todas as deslealdades do cotidiano, incluindo a falta de respeito para com as pessoas com necessidades especiais. É comum o paraplégico desviar sua cadeira para a rua, porque a calçada está tomada por automóveis.

Depois o papo nos levou à poesia. Falou do seu aluno que tem pendores poéticos. “Um rapaz romântico, seus poemas são inclinados ao amor”.  A gente liga muito poesia com romantismo, o sentimentalismo exacerbado.  Poesia, no entanto, fala de tudo e não fala especificamente de nada. Poesia às vezes nem fala, deixa que o leitor fale por ela.

Enfim, parabenizo a Escola João Fagundes de Oliveira por ter um mestre dessa qualidade, um cara que enxerga aquilo que os outros não vêm e anda veloz pelos caminhos da cognição. Estudei nessa escola lá nos tão longínquos anos 70, e ainda hoje lembro das vivências e convivências com bons professores como esse Luiz Antonio. Ainda bem que a tradição continua.  

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