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quarta-feira, 29 de maio de 2013

Gabriel, o verdadeiro anjo pornográfico


Desenhado por Tomlini

Tarcísio Pereira ainda era pobre e ajudava a manter o teatro Cilaio Ribeiro, da Federação Paraibana de Teatro Amador com seu parceiro de palco e de bar, meu compadre Jacinto Moreno. Em cartaz, a peça “Amor à meia luz”, furor pornô-erótico da época, uma espécie de Pastoril profano em moldes mais “sérios”, de autoria de Moreno, tendo como ator principal o jovem Gabriel no máximo de sua grandeza interpretativa, no papel de um rapaz que come a mocinha nas mais delirantes peripécias.
Porém, e sempre tem um porém, a real esposa do ator Gabriel jamais se convenceu do distanciamento interpretativo do galã, principalmente nas cenas tórridas. O texto sofreu toda sorte de cortes e censuras, mas sempre sobrava aquela parte em que a personagem de Gabriel se atracava com a mocinha, os dois devidamente nus.
Foi durante a festa das Neves, teatro lotado, a peça teve início com o reprimido Gabriel já mandando ver na sua heroína, quando à meia luz aparece a mulher do canastrão carregando mais brabeza do que uma lata cheia de siri. O porteiro Tarcísio Pereira ainda tentou barrar a entrada da megera disposta a baixar o fogo do ator a golpes de Gillette. Jacinto Moreno, que fazia a luz do espetáculo, foi chamado às pressas à portaria, na tentativa de botar panos quentes no incidente que ameaçava a função.
De comédia de erros e costumes, a peça descambou para a baixaria pura e simples. A furiosa mulher enfiou a mão nas respectivas fuças da equipe técnica e entrou em cena, disposta a comer o fígado de Gabriel. A platéia foi ao delírio, crente de que se tratava de peripécias do enredo. Jacinto tentava acalmar o conflito, aos berros:
--- Senhoras e senhores, pedimos desculpas pela situação, isso não faz parte do espetáculo!
Foi quando se deu a cena de sangue. A senhora Gabriel rasgou a marca do Zorro na cara do galã com seu estilete, a matéria desceu e a policia foi chamada.
Na delegacia, faltou pouco para que toda a troupe fosse dormir no xilindró. Moreno era o mais exaltado:
--- Ela me chamou de fresco! Quero meus direitos autorais de macho!
Terminada a acareação, foi todo mundo para a bagaceira da festa das Neves tomar São Paulo com tira-gosto de churrasco de gato.
Gabriel pediu divórcio por “incompatibilidade de gênero”. “Vou arriscá-la completamente da memória”, prometia o violentado ator.

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