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domingo, 3 de fevereiro de 2013

POEMA DO DOMINGO




Obra de Agnolo Bronzino (italiano, 1503-1572)

Como construir um poema de amor



Da delicada arte
não há nada a dizer.

Eruditos, doutos e letrados,
principalmente os assexuados,
proclamam a utilidade
de se entender os mistérios
da arte de compor
um singelo poema de amor.

Celebre seu banquete
com a ortografia/poesia de jorrar perene
o sêmen inesgotável
de um poema dramático e gozoso,
porque a poesia não será escrita.
A poesia, na verdade,
está mesmo é na renúncia do poeta
em assumir encargos semânticos,
tudo sem muito palavrório,
porque no dia do juízo final
seus mais carregados remorsos
corroerão sem cura
os amantes que não souberam
escrever seus próprios poemas de amor
por canhestros ou analfabetos sentimentais,
embora laudatórios,
anunciando com palavras no papel,
em inútil exercício literário,
a simples, indecente e singela arte,
carregando a sensação incômoda
de só conhecer a paixão por ouvir dizer,
porque a vida não se repetirá. 

F. Mozart

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