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terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

COLUNA DE ADEILDO VIEIRA



O mundo canta todas as línguas, inclusive o inglês!
      Adeildo Vieira

Salif Keita, de Mali
O melhor meio de divulgação da música é com certeza o rádio. Foi e sempre será aquele meio que põe canções no inconsciente coletivo da população, que constrói fãs para este ou aquele artista, que consagra obras musicais e até define rumos para a cultura musical brasileira. É por isso que nós músicos travamos uma luta eterna pela democratização deste poderoso veículo de comunicação. Mas, infelizmente, as ondas do rádio, por serem manipuladas por empresas ou governos, estão, em sua esmagadora maioria, submetidas a interesses ideológicos que não servem ao bem público e à consagração de valores que promovam o crescimento do cidadão no que tange ao seu direito sagrado à boa informação.
Há uns dez anos atrás, em um debate sobre a programação da nossa Rádio Tabajara, única empresa radiofônica que se abriu para discussão pública, discutíamos sobre o perfil musical da emissora, quando nos foi explicado o percentual de canções de artistas paraibanos na programação, mas também daquilo que rotularam de MPB e de músicas ditas internacionais.
O que me chamou a atenção é o conceito que os profissionais radiofônicos têm de música internacional. Trata-se do rótulo que dão a toda música cantada em língua inglesa, como se fora do Brasil todos os países fossem colônia dos Estados Unidos e adotassem esse idioma na execução de sua música. Até parece que vivemos a inércia do movimento anglicista no mercado musical brasileiro dos anos setenta, quando as gravadoras promoviam artistas que gravavam em inglês, criando cantores pseudoamericanos como Morris Albert, Terry Winter, Christian (hoje na música dita sertaneja) e Mark Davis, o hoje famoso Fábio Junior.
O fato é que este pensamento equivocado priva o ouvinte de todo Brasil de conhecer outras culturas de países de belíssima identidade musical. Em detrimento disso, acabamos por conhecer artistas de qualidade duvidosa, mas que manifestam sua obra em inglês, preenchendo equivocadamente o perfil de música do mundo inteiro. É inaceitável que a população do maior país da América do Sul não conheça sequer a música dos países vizinhos. Não ouvem sequer a música dos países africanos de língua portuguesa. Ouve-se Lady Gaga, mas não se conhece Marisa, maravilhosa cantora de fados dos encantos portugueses. Justin Bieber é artista internacional com direito a ampla divulgação no Brasil, mas o mesmo não se diz do cubano Pablo Milanés, do dominicano Juan Luis Guerra, do malês Salif Keita. Cito clássicos musicais de vários países, porque através deles os ouvintes teriam acesso a outras matrizes musicais e assim acenderiam seu interesse por novos caminhos em seu gosto de apreciar canções.
A música internacional ecoa pelos cinco continentes, mas só as expressões de língua inglesa passam no filtro sonoro das emissoras de rádio brasileiras. Nada mais sintomático, considerando os interesses imperialistas americanos que, pelo viés da pujança econômica e política,  ditam as regras para o destino cultural do nosso país. Aliás, quem determinou que o povo não se interessaria por músicas de países asiáticos, africanos ou europeus? E por que essas músicas acabam invadindo as ondas do rádio quando são trilhas de novela? Deixo a pergunta de fácil resposta para os programadores de rádio e para os ouvintes que são privados de viver as emoções que os sons universais podem nos proporcionar.

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