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domingo, 9 de dezembro de 2012

POEMA DO DOMINGO




A MALA MOSCOVITA

Na submersão da noite, eu não consigo mais dormir direito,
sonhando sonhos impossíveis
como a mecânica de sair da mala, trancado por fora.
É um desafio inquietante no ermo de minhas madrugadas insones. 

Meus arquivos mentais rolam morosamente,
sem entender o sentido da mala, da morte, da vida.
Mundo de pequenos encantamentos,
a mala moscovita foi elevada à categoria de símbolo,
não de uma carreira de ilusionista,
mas de minhas frustrações pessoais. 
Fora da mala sei que chorei lágrimas doces,
acessei vagas lembranças
e uma saudade já esquecida,
expectativas de sonhos há muito sepultados. 

Velho sem amanhã, olho para a mala,
olhos tensos, um brilho de desafio que acaba logo. 
O mistério da mala continua lá, como a esfinge: “decifra-me ou te devorarei”.
Sentado na mala moscovita,
ouço murmúrios abafados saindo
pelas frestas da velha arca,
ruído de passos sussurrantes no pequeno quarto escuro.

Então começo a medir a extensão daquela preciosidade,
resolvido a não mais mexer nos seus mistérios.

F. Mozart

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