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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

COLUNA DE ADEILDO VIEIRA



Na atitude de Uns, o deleite de todos
Adeildo Vieira
É mesmo uma pena que ele não tenha visto o show! E com certeza nem deve imaginar que alguns garotos da Paraíba seriam tão ousados com a obra que criou há quarenta anos. Pois é, Caetano Veloso, no apogeu dos seus setenta anos recém-completados, não desfrutou in loco deste seu presente embalado de emoções históricas e que foi capaz de projetar a saudade no futuro através da atitude da BandaUns, criada com o exclusivo fim de homenageá-lo.
No afã de comemorar a vida do compositor septuagenário, aqueles garotos com idade beirando os vinte anos também homenagearam o disco Transa, lendário album do bardo leonino que este ano completa quatro décadas. Neste firme propósito subiam ao palco os jovens músicos Gustavo Limeira, Ernani Sá, Lue Maia e Emanuel Rudá, contando ainda com as participações especiais de Hugo Limeira e Macaxeira Acioly. Era noite de sábado, 15 de dezembro.
Pra quem saiu de casa ansioso, esperando ouvir a fiel sonoridade das canções daquele elepê e assim reportar-se a situações pretéritas pelo fio sonoro do tempo, teve uma grata surpresa. Através de seus arranjos, A BandaUns superou as expectativas, espalhando no ambiente do show a inquietude frenética das canções que se mantêm congeladas no disco. Ou seja, partindo dos padrões harmônicos e rítmicos das músicas originais, desenvolveram movimentos musicais que adensaram o modelo de um bom show, atual e interativo. O infinito potencial das músicas do Transa encontraram naquela banda um ambiente propício para mergulhar no coração de quem, mesmo visitando as emoções do passado, namora o hoje e flerta com o futuro. Aquele foi um exercício musical com sinais de maturidade, traçado por uma notória direção artística que também se esmerou na definição do figurino inspirado nos signos visuais do tropicalismo. Enfim, bom mesmo foi assistir ao show de uma banda que homenageava um compositor sem que tivesse a menor pretensão de dele ser cover.
Não bastasse a pesquisa à obra de Caetano, a BandaUns mostrou-se ainda afinada com dados históricos relevantes. O reconhecimento da importância de artistas, tanto do espectro universal quanto do universo de sua vizinhança, para a construção de seus propósitos, é algo que demonstra consistência em sua busca identitária. A citação feita no show a grandes artistas recentemente falecidos, como Niemeyer e Ravi Shankar, assim como a lembrança do Musiclube da Paraíba e seus atores mais renitentes (felizmente ainda vivos), mostram que o objetivo desta banda não é apenas reverenciar a figura emblemática de Caetano Veloso, mas entender os movimentos da música brasileira e universal na construção de seus referenciais artísticos. Por si só, este exercício de consciência já justifica a importância da banda, sobretudo como referência no meio juvenil.
Tornam-se por demais compreensíveis os traços caetaneiros ainda presentes na performance do talentosíssimo vocalista, uma vez que terá uma vida inteira para sedimentar-se sob a luz dos conceitos arquitetados pelo tropicalista que ergueu pilastras indeléveis para a grande música brasileira. Vale a alma inspirada pelo ídolo, ainda mais quando se percebe que, já de início, há uma inquietude que o tange do desejo de cópia. Acho mesmo é que grandes artistas estão nascendo para a música universal, carregando como estandarte a inquietude dos parangolés de Hélio Oiticica.

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