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terça-feira, 27 de novembro de 2012

COLUNA DE ADEILDO VIEIRA



Oração a Santa Cecília, o nosso “santo de casa”

Adeildo Vieira

A bênção Santa Cecília!
Salve a santa padroeira dos músicos, maestrina do coro dos contentes, do choro dos renitentes. Vigiai a vigília nossa de cada dia pela felicidade do mundo e velai a vela que se mantém acesa no coração da humanidade e que ilumina as salas de concerto, os palcos, os terreiros, as festas de nossa esperança, os sons que embalam nossos sonhos. Salve a padroeira de voz tenra, cuja representação simbólica - criação dos católicos - remete à proteção dos anseios de uma categoria que abre nos quatro cantos do mundo uma escala de infinitas notas musicais. Um sem-fim de notas com as quais cantam-se todos os credos, todas as raças, enfim, todos os povos, pra que, em nome das diferenças, seja celebrada a unidade. À santinha cantora cabe-nos rogar, junto com santos de todos os credos, para que protejam a alma de quem faz de um instrumento seu esteio, mas também abrandem o coração de quem tem o poder de desafiná-lo!
No dia 22 de novembro celebra-se o dia do músico, justamente pela referência ao dia consagrado à Santa Cecília. Mas, devoções católicas à parte, o fato é que o coração do músico, religioso ou ateu, tem acompanhado a síncope dos dias e a catastrófica desafinação dos que não percebem a grandeza da música e dos profissionais que a ela se dedicam. Eu diria mais: o próprio músico tem acompanhado cortejos errados. Inadvertidamente, tem engordado as procissões dos que professam a descrença em nossa arte. Falo dos cortejos do capital, onde músicos são imolados para engorda de interesses escusos de terceiros. 
Na verdade, Santa Cecília pode ser aquela a quem todos chamamos de “santo de casa”, o mesmo que não faz milagres, talvez porque faltem-lhe fiéis. O que os santos mais caseiros são é a representação da fé que cada um tem em si próprio e em seu terreiro. Se não há fé em casa, não há milagres domésticos. Mas quando a fé incondicional se instala, ninguém carece de milagres, pois tudo se concretiza sob a força de quem acredita.
Evoquemos, pois, talvez em nome de Santa Cecília, todos os santos e santas que habitam na fé de cada devoto da música. Se for preciso evocar santos, que o façamos na intenção de reconhecer a força da nossa profissão e defendê-la com a consciência de quem tem a música como devoção, de quem a encara como missão em benefício da humanidade. Talvez assim conquistemos a remissão dos pecados ante os santos mais caseiros e dedicados, aqueles que se queixam de ócio, porque não há fé que os evoquem.
Tendo espírito democrático, sou afeito às manifestações ecumênicas, sobretudo neste país que se diz laico. Mas hoje, cá entre nós, eu já fiz minhas orações à minha santinha padroeira. Com fé, rezei pra que ela me proteja de mim e  minhas fraquezas.



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