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quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Estando eu no outono, não comemoro mais primaveras




Não sou má pessoa, apenas um pouco apanhado pela idade



Em 25 de outubro de 2055, Fábio Mozart completará cem anos sem maiores flatuosidades, agradecendo à infidelidade da sorte por ter cumprido tão longo roteiro de vida, perdida.

Intranquilos leitores e sossegadas leitoras da Toca do Leão, obrigado pelas mensagens de congratulações, especialmente ao meu compadre Geraldinho que afirmou cavalheirescamente: “Parabéns compadre Fábio Mozart! Você tá conseguindo ganhar mais uns cabelos prateados! E espero chegar lá! Muitas felicidades.”

O filho do meu compadre Fernando Melo, Fernandinho de Itabaiana, também lembrou do aniversário do velho Leão: “Parabéns amigo, que Deus continue abençoando sua vida. Paz e bem.”

O que é a natureza, hem? Um dia desses eu era um garoto tão tímido que quando olhava no espelho, me sentia mal ao ver minha imagem, achando superior ao original. Hoje sou a mesma merda, só que com uma série de dores pelo corpo e a cara de maracujá de gaveta.

Mas é como eu digo: só há um Fábio Mozart no mundo, mesmo porque, dois esse planeta não comportaria. Antigamente eu comemorava meu aniversário no Bar Mil e Uma Moscas, hoje o fígado não permite essas festinhas. Exercendo meu mandato de aposentado, recolho-me à rede velha para ler Rubem Braga, recordando o tempo em que era rei. Todo bêbado é rei. Eu fui destronado.

Tirando a modéstia de lado, como falou Noel Rosa, já construí muitos sonhos pela vida afora, agora tou só virando vento como anjo aposentado. Espero, entretanto, nunca zerar minhas contas oníricas. Já estou queimando óleo 40, fico só na toca feito caranguejo velho em maré baixa. Já tenho idade bastante para não comemorar mais nada.

Encontrei outro dia meu amigo Chico, que há muito não via. Nessas ocasiões, cada um de nós tem prazer em constatar que não envelheceu sozinho. Enfim, envelheço sem remorsos, como um elemento altamente banal, um zé ninguenzinho, como diria Maciel Caju, mas contente da vida por ter a sorte de escrever para meia dúzia de amigos essas bobices diárias aqui na Toca. Se bem que Maciel Caju me acusou de lítero-estelionatário. Não reagi. Ele faz parte do meu mundo simbólico. Não vou deletá-lo. Mesmo porque, nessa idade em que me encontro, não é bom deletar amigos velhos, mesmo de qualidade inferior.

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