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terça-feira, 16 de outubro de 2012

Caju no circular Geisel/Inferno


Lata de sardinha que chamam de coletivo, saindo do bairro Ditador Ernesto Geisel em João Pessoa


Maciel Caju é um senhor da melhor idade, beirando os setenta. Imagine o sacrifício de alguém sofrendo de artrose, com dificuldade de locomoção, usando o transporte público. Caju carrega sua ansiedade nos lotados ônibus dos tubarões com a prostração dos que nada podem, mas com o bom humor de antigo pândego.

“À primeira vista, o chofer não me dá sessenta anos. Com vinte metros de distância, o cara fica em dúvida: pára ou joga o carro numa poça de lama para sujar as calças do velhinho. No outro dia, entrei no ônibus e fui anunciando em voz alta:

--- Sou deficiente.

O motorista olhou para minha desengonçada figura, procurando o defeito físico.

--- Que deficiência você tem? – perguntou insossamente.

--- Sou broxa – respondi.

O safado deu uma risada, todo mundo se abriu. Um velhinho receitou chá de catuaba todo dia. Algumas senhoras ficaram me olhando e rindo... Uma delas me deu o assento. Ao lado, uma coroa de seus cinquenta, tentando controlar o riso, em deferência aos meus cabelos brancos.

Eu disse bem baixinho pra ela:

--- Fique triste não. Foi uma mentirinha pra economizar R$ 2,20.” O velho aqui é igual cebola: a cabeça é branca, mas o talo é verde.

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