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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

COLUNA DE ADEILDO VIEIRA


Balaio de festa e consciência
 
Adeildo Vieira
É o que dá deixar o mercado conduzir os destinos da cultura!... Imaginem só que hoje se faz necessário criar mecanismos de proteção pra manter os códigos mais que sagrados da música nordestina, pois do que foi magistralmente identificado, decodificado e propagado por Luiz Gonzaga, pouco resta nas grandes festas dos rincões do nordeste e nas mídias em geral. Não bastasse o fato do Brasil ter se curvado à sedução festeira do forró. Não bastasse a genialidade brasileira de Jackson do Pandeiro, que fez dos ritmos telúricos do nosso país uma grande brincadeira de terreiro na base do côco... Tudo isso virará coisa do passado, se deixarmos os empresários das festas juninas tomarem as rédeas do nosso tino forrozeiro.

Ante o estrebuchamento daqueles que desejam exclusivamente ganhar dinheiro usando o forró como mero pretexto, a decisão de Chico Cesar em manter as tradições do forró nas festas juninas da Paraíba é, a meu ver, tiro no alvo certo. Trata-se de uma ação de Estado para preservar a grandeza cultural do estado, de carrear o dinheiro público para o fulgor da alma nordestina, ora maculada pelos interesses mercantilistas que usam de conceitos imorais como recursos para a alegria do povo. São o alcoolismo, a prostituição, a pedofilia, a maculação da imagem da mulher como temas para diversão pública. Em casos menos graves, perde-se a beleza dos ritmos, da poesia e da melodia que tão bem caracterizam a nossa música. Mas a dita democracia deixa ainda a ampla opção do dinheiro privado investir na música que quiser. Aos empresários, que vivem seus interesses meramente econômicos, cabe cuidar da música que enche seus bolsos. Ao Estado cabe o direito de preservar o que realmente o povo criou para suas festas, antes que isso se acabe.

Mas o caminho mais consistente para promover a preservação da cultura nordestina em nosso estado hoje é projeto Balaio Nordeste, iniciado em 2007 e que se tornou a Associação Balaio Nordeste, em março de 2009. Esta  iniciativa, de alma grande e olho no futuro, nasceu do espírito empreendedor de uma mulher apaixonada pelo forró e que arrebanhou uma legião de profissionais e amantes da cultura nordestina para investir na formação educacional e cultural de jovens e adultos. Nesses cinco anos, a ABN, capitaneada pela produtora cultural Joana Alves, promoveu eventos que juntaram nos palcos artistas emergentes e grandes nomes da cultura nordestina, estimulou o movimento sanfônico em nosso estado, além de participar intensamente das discussões sobre  políticas públicas no trato da cultura nordestina em todas as suas formas de expressão. Só mesmo uma ação educacional permanente é capaz de neutralizar o bombardeamento midiático que tenta abafar as fogueiras juninas que ardem em nossos corações.

A Associação Balaio Nordeste segue seu caminho de dignidade, amargando as dificuldades de quem navega contra a correnteza. Amealhando apoios públicos e de raros empresários pé-de-valsa e chapéu de couro, o recado está sendo dado para as gerações futuras, que aos poucos voltam a dançar ao som de Luiz Gonzaga e seus seguidores, de Sivuca e seus louvadores, de Jackson e seus perpetuadores. São séquitos de um reinado que, por conta de ações como esta, multiplicam-se. Eu, pelo menos, junto com a ABN,  encho o peito pra bradar com o fôlego da vitalidade que embala meus dias: Viva Zé Calixto!!!


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