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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

COLUNA DE ADEILDO VIEIRA

 Alô, som!... Testando!


Na última terça-feira fui convidado para uma reunião de técnicos de som e luz e  não hesitei em comparecer. Eu, músico e compositor, fui bem à vontade, sem a menor sensação de ser intruso no meio das discussões daquela categoria. Fui com a certeza de que os problemas que atingem aqueles técnicos estão diretamente ligados a mim, assim como a todos os artistas de música que sobem aos palcos.

Chegando lá encontrei velhos companheiros de trabalho e outros trinta e tantos que ainda não conhecia, mas li nos olhos de todos uma certa tomada de consciência da condição que nos une, a de trabalhadores que precisam ser reconhecidos e valorizados nas suas atribuições. São muitas as necessidades identificadas por aqueles cidadãos no seu exercício de trabalho: capacitação, reconhecimento de direitos trabalhistas, valorização da profissão e organização política que legitime a grandeza de seu labor. A conclusão imperativa foi a de que precisam fortalecer sua consciência sindical para atingir a redenção em sua profissão. Enquanto isso não acontece, amargam a condição de serem considerados por muitos como trabalhadores do acaso que vivem de fazer “bico”.

Os técnicos de som e luz são profissionais que necessitam de altíssima qualificação, pois precisam acompanhar a vertiginosa velocidade dos avanços tecnológicos, assim como os meandros das linguagens artísticas. Sonorizar é arquitetar timbres, intensidades e conceitos que são manifestados num palco, da mesma forma que fazer iluminação cênica é lidar diretamente com a magia das cores, manipulando  os caprichos das ondas de luz e suas linguagens. E pra isso tudo é preciso um conhecimento arrojado e permanente. Mas quantos sabem disso? Muitos técnicos não sabem. Até mesmo muitos músicos também não sabem. E se a gente não sabe, é impossível profissionalizar nossa cena musical, o que gera outra pergunta: até quando viveremos sob as amarras da desinformação, sacrificando a beleza potencial da nossa cena? Ao meu ver, a resposta começa a ser dada a partir daquela reunião em que todos reconhecem seus limites e buscam soluções pelas vias da capacitação e da organização política.

Não existe bom show sem boa música, mas também não se ouve boa música sem um bom operador de áudio. É por isso que há muito tempo incorporei um técnico de som e outro de luz nos meus shows, assim como busco permanentemente a depuração a minha arte, adensando conteúdo e investindo em sucessivos ensaios junto a meus companheiros músicos. Somos todos parceiros para vender um mesmo produto, a nossa música. É preciso a consciência de trabalho integrado e respeito mútuo, pois diante dos palcos está um público exigente e taxativo quanto a seu julgamento. Show mal sonorizado não atinge apenas  o artista, mas sobretudo o profissional que opera uma mesa de som. Sem compreender essas questões técnicas, o público condena todo mundo, junto com a cena musical de nosso estado, uma vez que compara o nível sonoro de nossos shows com os espetáculos de artistas consagrados que trazem seus técnicos devidamente capacitados. E para mal entendedor, meio som basta. A conclusão que chegam é que na Paraíba todos somos incompetentes na produção de nossos espetáculos.

É por isso que vejo esta atitude dos companheiros técnicos como sendo uma grande ação em favor da nossa cena cultural. Com essa consciência empreendedora na busca de capacitação e afirmação política ganhamos todos. Juntos temos muito o que aprender para levar ao grande púbico o que ele merece: a nossa alma estampada em ondas sonoras tratadas pelo esmero da nossa consciência e do nosso conhecimento. Estamos todos no mesmo barco. Ou navegamos juntos ou juntos naufragamos num mar de barulho.

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