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quarta-feira, 22 de agosto de 2012

COLUNA DE ADEILDO VIEIRA


Não por acaso!
Adeildo Vieira

Agora São sete horas da manhã do dia dezesseis de agosto de 2012 e cá estou eu escrevendo esta coluna. Hoje faço 50 anos de vida. Uma vida intensa que, dentre outros ensinamentos, mostrou-me que não existe acaso em nosso caminho, existe mesmo é providência pra se cumprir missões. Acho que não é por acaso que, há cinco décadas nascia eu na cidade de Itabaiana, onde circulam as energias sonoras de Sivuca e o fulgor das palavras brincantes de Zé da Luz. Assim como também não há acaso no fato de eu ser fruto doce de Dona Dorinha e Seu Edísio, guerreiros de viver  que me apontaram um norte embalado por canções de ninar e brincar que, não por acaso, jamais me saíram da memória. 

No ano de 1977 a vida nos arrancava de Itabaiana em destino à capital paraibana, onde sonhávamos morar de frente pro mar, mas acabamos mesmo morando de frente para Pedro Osmar. Claro que não foi por acaso. Inocentemente, aos quinze anos de idade, estava eu no olho do furacão criativo de nosso estado. Poucos anos depois eu já seria contaminado pela militância de viver orquestrada por aquele Pedro, timoneiro da nau dos errantes, de quem recebi o sangue da carne do Jaguaribe. Naquele momento, meus planos de ser engenheiro mecânico foi abruptamente arrebatado por um violão no início dos anos oitenta. Inexplicavelmente (ou pela força do não acaso) eu abandonava as ciências exatas e abraçava a dúvida, hoje matéria-prima com a qual manufaturo meus sonhos e minhas certezas. Os dois anos de engenharia cursados na UFPB foram suficientes pra eu entender que eu viria ser construtor de estruturas complexas, inspiradas pela arquitetura dos quadros de Picasso. Hoje me dedico à construção de pontes, ainda que pareçam surreais além da conta.

No MUSICLUBE DA PARAÍBA aprendi a ser carpinteiro. Ainda nos anos oitenta, eu e meus companheiros de oficinas sonoras trabalhamos na construção de palcos pras gerações futuras. São palcos móveis que são armados onde há dignidade, feitos de brilho dos olhos e batidas de coração. Palcos das alegrias e angústias do mundo. Palcos de atitudes e de esperanças. Neles cantei as primeiras canções e empunhei as primeiras idéias rumo ao horizonte. E em nada disso há acaso. Há ocasos e auroras, denunciando que há um dia atrás do outro nos chamando ao trabalho. Em cinco décadas de vida, vinte e oito anos de trabalho e esperança ao som de canções de existir, de insistir.

Chego aos 50 anos feliz. É que, não por acaso, tenho três filhos que receberam o bastão de minhas posturas diante da vida. Dois deles me acompanham nos palcos, o outro segura firme  a batuta de seus sonhos, orquestrando nobres propósitos. Os meus amigos de sons e sonhos me carregam nos braços ao mesmo tempo que os abrigo no coração. São todos instrumentos sagrados de uma missão que a vida me confiou, arquitetando conspirações em favor da esperança. Quem tem Dona Dorinha e Seu Edísio como gênese não verá o apocalipse. Cabe-me mesmo é acreditar numa sucessão de gêneses que, não por acaso, abrirão novos caminhos para o futuro. Esta é a força da natureza que insiste em avançar. 

Agora vou me concentrar pra o show PARA BONS!, que faço hoje à noite ao lado de amigos queridos, ao som de nossas canções. Foi a forma que escolhi pra celebrar a vida e o privilégio de ter nascido nos braços da música, na mesma terra que acendeu a luz de Sivuca para o mundo. E nada disso foi por acaso e sim providência em favor da vida.

Aguardem o show do meu primeiro centenário. A produção já está em andamento.

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