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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Vladimir Carvalho colabora com o Ponto de Cultura Cantiga de Ninar


Passando o chapéu

ARTE não é produto comercializado.
ARTE não é para a gente pagar ingresso.
ARTE não é exposta na vitrine.
ARTE não se pendura na parede.
ARTE é impulso, cambalhota mortal do Desejo e da Imaginação, salto quântico da mente em busca de outras freqüências-intensidades de Onda. (Bráulio Tavares)

Sou aposentado, mas só faço isso por sobrevivência. Minha atuação mesmo é na área da arte. Faço o possível para cumprir meu destino de devorador de arte, criador (de caso, muitas vezes), disseminador de fazeres e saberes. Espalho em múltiplas direções ideias pouco convincentes de sustentar o mínimo de memória de nossa cultura regional, salva desse redemoinho da indústria cultural inconsequente, falsa e vazia. Vale a pena? Acho que sim, até para sair um pouco do rame-rame que apoquenta nosso cotidiano.
É por isso que me sacrifico para manter uma instituição cultural sem fins lucrativos na minha cidade, Itabaiana do Norte. Tem gente que me vê como um fanático, um esquisitão que tira dinheiro da feira da família para gastar com uma ideia que para muitos é insana: interferir no mundo mental de jovens, na esperança de que nossa mocidade troque os carros de som que chamam de paredão com suas músicas infames, o apelo das drogas e a burrice da TV pela adesão a movimentos culturais. Nosso propósito, no Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, é a utilização do teatro, dança, música, artes plásticas e cinema como veículos aglutinadores da juventude, para a construção de um verdadeiro processo de cidadania dos jovens.

Estamos passando o chapéu para sobreviver. Eu digo que fomos vítimas de estelionato por parte do Governo da senhora Dilma Roussef. Planejamos nosso Ponto de Cultura para atuar com uma programação que utilizasse as ferramentas prometidas pelo Governo em Convênio com nossa entidade. Só que o Governo resolveu cortar o orçamento deste ano, e começou desbastando o que considera supérfluo, a área cultural. Deixaram os Pontos de Cultura à míngua, sem poder executar seu plano de trabalho. A trapaça se configura como um estelionato. Artistas e produtores ficaram no prejuízo. Uns pegaram dinheiro emprestado, outros venderam bens, fizeram “papagaio” em banco para tocar seus projetos de ponto de cultura. Dona Dilma, a primeira coisa que fez foi não repassar o dinheirinho acertado em Convênio. Endividados e com o nome sujo na praça, os agentes culturais começaram a fechar os pontos de cultura.

Nosso Ponto continua aberto, sem os computadores prometidos pelo Governo, sem dinheiro para pagar professores e oficineiros, mas com agentes culturais ainda dispostos a resistir, buscando novas formas de financiamento, abrindo o círculo de apoiadores. Lamentando a forma como os governos tratam a cultura e seus atores, quero agradecer aos amigos e amigas que estão colaborando conosco. Agora mesmo recebemos doação de R$ 500 reais do grande cineasta itabaianense Vladimir Carvalho. Esse é um cidadão desprendido, tanto que doou todo o acervo da Fundação Cinememória, que funciona na casa dele na W3 Sul, em Brasília, à Universidade de Brasília. O acervo do cineasta incluiu uma biblioteca com mais de 3 mil volumes, uma coleção completa do jornal Pasquim, câmaras e refletores antigos e documentos sobre a história do cinema no DF nos últimos 40 anos. 

Outros amigos estão colaborando, de forma que vamos inaugurar o auditório no dia 28 de janeiro de 2012 com o lançamento do meu livro “A História de Biu Pacatuba, um herói do povo paraibano” e a nova produção de Romualdo Palhano, “Eu e a Rainha”. Muita gente do meu convívio me acha um sujeito excêntrico e imprudente. Não discordo totalmente. Mas é como eu digo: dentro dos padrões normais não se consegue fazer arte e dar aquele  “salto quântico da mente em busca de outras frequências-intensidades de Onda”.

 

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