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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Ponto de Cultura vai funcionar em cenário do livro “Doidinho”


 
--- Pode deixar o menino sem cuidados. Aqui eles endireitam, saem feitos gente — dizia um velho alto e magro para o meu tio Juca, que me levara para o colégio de Itabaiana. Estávamos na sala de visitas. Eu, encolhido numa cadeira, todo enfiado para um canto, o meu tio Juca e o mestre. Queria este saber da minha idade, do meu adiantamento. O meu tio informava de tudo: 12 anos, segundo livro de Felisberto de Carvalho, tabuada de multiplicar. (Primeiro parágrafo do romance “Doidinho”, de José Lins do Rego)

“Doidinho” é um romance autobiográfico de José Lins do Rego, publicado em 1933. É a segunda obra do autor pilarense do ciclo da cana-de-açucar. O primeiro livro desse ciclo foi “Menino de Engenho”.


O romance se passa no colégio onde ele estudou na cidade de Itabaiana, que não é outro senão o Instituto Nossa Senhora do Carmo, cujo diretor era o enérgico e paraplégico professor Maciel. É justamente na casa onde funcionou o setor que abrigava os alunos internos da escola do professor Maciel que será instalado o Ponto de Cultura Cantiga de Ninar. “Esse foi o cenário da obra de José Lins do Rego, Doidinho”, explica Orlando Pereira de Araújo, antigo morador da Rua da Boca da Mata, atual Rua Coronel Firmino Rodrigues. A casa faz parte do patrimônio do coronel, “administrado hoje pela sua neta Valéria Rodrigues, herdeira direta, zelosa cuidadora do que resta daqueles prédios históricos”, segundo Orlando.

“A extensão total do terreno do Instituto tinha início em um terreno ao lado direito da casa internato, ia ao fundo até o riacho e se estendia até o prédio da Cadeia Pública, às margens da linha férrea”, informa Orlando Pereira.

Em Doidinho, o próprio narrador encontra-se inserido dentro de um sistema injusto e opressor que era a escola da época. O colégio como um todo, o diretor, os alunos e funcionários são a representação de uma sociedade injusta e repressiva contra a qual o protagonista se opõe. O colégio severo era uma representação do universo de repressão e injustiças. 


“É uma honra para nós, artistas, a ocupação de um importante prédio histórico e símbolo da educação, o antigo Instituto Nossa Senhora do Carmo”, disse Clévia Paz, do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar. Recuperado e restaurado pela atual proprietária, Valéria Rodrigues, o edifício, de estilo eclético e características arquitetônicas do início do século XX, agora abriga a sede do Ponto e do Cineclube Vladimir Carvalho. A equipe do Ponto de Cultura já trabalha no projeto de adaptação de área externa para abrigar um auditório. “Vamos tentar identificar legalmente esta casa como de interesse de preservação pelo seu valor histórico”, disse Marcos Veloso, coordenador da Sociedade Amigos da Rainha do Vale do Paraíba, mantenedora do Cantiga de Ninar.

O casarão onde funcionou o Instituto Nossa Senhora do Carmo será a sede do Ponto de Cultura
www.pccn.wordpress.com

2 comentários:

  1. É com muita alegria que recebo a notícia da nova sede do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, num prédio que foi cenário do romance "Doidinho", do eterno menino de engenho e, com muito orgulho, meu conterrâneo José Lins do Rego.

    Desejo vida nova e grande sucesso a todos que fazem esse virtuoso ponto de Cultura da terra do poeta Zé da Luz, do mestre Sivuca e do cineasta Vladimir Carvalho.

    PARABÉNS e um feliz 2012!

    ANTONIO COSTTA

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  2. Acabo de conhecer Doidinho, ou melhor, o senhor Carlos de Melo. Emocionante. Que primoroso texto desse extraordinário escritor! Agora quero conhecer o prédio, o terrível CNSC, e sentir a presença de cada criaturazinha daquelas, aqueles projetos de vida. Só não quero "ver" o maldito professor Maciel. Só se fosse pra aplicar-lhe umas centenas de bolos, até o meu braço cansar. E viva a Literatura Brasileira.

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