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sábado, 15 de outubro de 2011

Luiz, o lanterninha




Luiz Gonzaga de Lima é o nome de batismo. Luiz do cinema de Zé Medeiros. Lanterninha, empregado de botar água na casa do dono do cinema, zelador, eventual porteiro. Eu era garoto e Luiz já era velho. Encontrei Luiz pelas ruas de Itabaiana. “Quantos anos de idade, Luiz?”. “Nasci em 30”, disse ele.

A cidade estranha passa por Luiz, sem saber quem é. Só eu sei que Luiz é uma parte do meu passado de adepto das fitas no velho Cine Ideal. Luiz deixava os meninos entrarem de graça no cinema só pela contrapartida de pegar nos pintos da garotada em processo de maturação sexual e cinematográfica. Ali, no escurinho do cinema, chupando drops de anis e bala mentex, pegando na mão da mocinha, escorregando para debaixo da saia, a gente recebia na cara o foco da lanterna de Luiz. “Se não se comportar, boto pra fora!”

“Aposentado, Luiz?” “Nada, falta o registro. Moro de favor na casa de uma irmã.” Luiz parece um daqueles personagens das séries exóticas passadas nas terras do Oriente, saindo da tela, maltratando a realidade e sendo maltratado por ela. “Me dá um trocado aí”, pede Luiz. Passei para suas mãos magras uma nota de cinco reais. Enfim, pelo menos uma entrada de cinema foi reembolsada.

Na mesma esquina do Correio onde encontrei Luiz, lá vem Raminho guiado por uma mulher. Ele é filho do finado Antonio Otávio, meu segundo barbeiro, pelador dos cocorutos da gente no estilo militar. Meu primeiro barbeiro chamava-se Galvão. O filho de Antonio Otávio barbeiro está cego de glaucoma. Falei com ele, não reconheceu minha voz. Fomos amigos de infância na Rua da Palha.  Estômago de avestruz, comia vinte pães com um quilo de açúcar demerara. Meio retardado, Raminho sempre foi um vexame em termos de educação, de cultura, de boas maneiras. Nunca conseguiu passar da primeira série primária. Segue na vida pelo escuro, porque não adianta querer fugir do destino. Por que cegar um ser naturalmente mal desenvolvido da cabeça? Com todo o respeito: é brincadeira o dono do mundo querer empanar mais ainda a vida de uma criatura cheia de fé, mas carente de luz.

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