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sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Troco, sinuca e saudade


Minha aversão ao estudo sistemático teve como resultado uma ignorância total da arte de calcular. Não sei de cor a bendita tabuada de multiplicar, dividir e somar. Na feira onde faço compras algumas vezes, aprendi que não devo passar notas altas para os vendedores, a maioria de caráter duvidoso. Não sou capaz de conferir o troco. Fui bilheteiro de estação ferroviária, imaginem os prejuízos sistemáticos por causa de troco errado. Por obra e graça de aplicação especial da Lei de Murphy, se eu tiver que dar um troco errado, será sempre em meu desfavor. Ao contrário, recebendo troco, invariavelmente cometem o engano contra meu bolso.


Despreparado para comprar na feira, assim mesmo pedi meio quilo de feijão verde que custa quatro reais, no Mercado Central de João Pessoa. Dei onze reais ao vendedor, pedindo cinco de troco, pra facilitar. Na hora, fiquei meio hesitante, desconfiando que minha conta estava errada. O vendedor garantiu a correção da operação. No caminho, tentei calcular a transação, cada vez mais suspeitando que roubei a mim mesmo, um auto-roubo vexatório. Em casa, as suspeitas se confirmaram: perdi dois reais.

No dia seguinte tive o prazer de ler a crônica do poeta pilarense Damião Ramos Cavalcanti sobre o ábaco, uma tabela de madeira para fazer cálculos que se usava antigamente. Diz que aprendeu aritmética elementar no Colégio Nossa Senhora da Conceição, em Itabaiana e sabe tirar a prova dos noves na maior tranquilidade, o que muito engenheiro da nova geração não é capaz, porque a máquina faz com que o sujeito desaprenda a calcular “de cabeça”. Eu espicho o tema: o uso do computador e as facilidades do Google estão aos poucos subutilizando a nossa memória. Já não se escreve com caneta, estamos quase que totalmente dependentes do computador.

O ábaco é aquela tabela que se usa em sinuca para marcar os pontos dos jogadores. Na sua crônica, Damião cita grandes jogadores de sinuca de Itabaiana, entre eles Barata, Capão, Galego Relojoeiro, Gualberto, Dedé de Severino Duré, Porfírio, Valdo Enxuto, Zé Maroja e Machinho. A maioria já foi para o bilhar do andar de cima. Conheci essa turma. Nostálgica, minha mente voltou três décadas atrás, quando “peruava” esses bambas do taco em seus grandes embates na sinuca de seu Adonis ou na de seu Jonas. Jamais cheguei a entender aquelas operações de botar as bolinhas para um lado e para o outro no ábaco, somando e diminuindo pontos. 

Um comentário:

  1. Caro Fábio, você lembrou-me muito bem a sinuca de seu Adonis. Em 58 e 59 quando fui telegrafista de Triângulo, cujo chefe era Zé Falcão e na minha folga (12 horas intercalada) ia sempre para seu Adnis, não era para peruá a sinuca, era sim para peruá as peruas.
    Abrs. Barbosa rdt e def. público apos.

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