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sábado, 2 de julho de 2011

Heróis da resistência no ar


Da esquerda para a direita: Manoel Batista, Luiz Trindade, Genival Monteiro,  Marizete Vieira, a esposa do então deputado Avenzoar Arruda, o próprio parlamentar ao seu lado, Ricardo Locutor e o companheiro João Batista, do movimento de rádios comunitárias de Pernambuco, que veio dar uma força.

O Instituto Vladmir Herzog lançou a coletânea audiovisual Os Protagonistas dessa História. A obra é composta por 12 DVSs com depoimentos de 60 jornalistas que atuaram contra a Ditadura Militar nas décadas de 1960 e 1970.

A notícia lembra companheiros com quem tive a alegria de conviver e dividir o mesmo palco de luta pelo direito de expressão através das ondas do rádio. Acompanho, com emoção, a saga do companheiro Marcelo Ricardo, da Rádio Comunitária Diversidade do Jardim Veneza, que teve os equipamentos da sua emissora sequestrados pela Polícia Federal e responde a processo na Justiça Federal, pagando pena de multa pelo “crime” de dotar sua comunidade de um veículo de comunicação.

Ásperos vestígios da luta de Marcelo ainda atingem Juliana da Rádio Independente do Timbó, em João Pessoa, que também paga pela sua independência com processo judicial e multa pesada para uma comunidade mal provida de tudo, incluindo cidadania. A coragem de enfrentar essa luta é o atributo desses jovens, o que sempre os distingue não só como militantes de uma causa justa, mas como seres humanos cheios de intrepidez e de moral forte.

Quando for registrada a história dos comunicadores populares que atuaram contra a ditadura sob a qual ainda vivemos, os que rompem os protocolos da burocracia e o poder dos monopólios da mídia comercial, deve-se incluir o nome do meu companheiro Luiz Trindade, de Mari, fundador da Radio Comunitária Araçá, sujeito insubordinado que não se submete  a regras impostas pela ditadura do capitalismo e vai atrás do que é seu por direito. Por isso Luiz Trindade assumiu a luta pela reforma agrária no Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra e pela reforma agrária no ar, através das rádios comunitárias.

Na foto acima, registrei um ato público realizado em Mari, em frente à Rádio Comunitária Araçá, quando aquela emissora foi fechada pela primeira vez. Naqueles tempos de conflitos, década de 90, fazer rádio comunitária era uma experiência de alto risco, só compartilhada por homens e mulheres realmente interessados na democratização da comunicação radiofônica, sem picaretagem nem politicagem, interesses pessoais e troca de favores. Atiçávamos a besta da repressão com a espada da palavra, tendo como resposta a prisão, os processos, a perda dos equipamentos e os prejuízos pessoais. Ainda hoje, Marcelo Ricardo não pode fazer concurso público, por exemplo, porque tem a ficha suja nos arquivos da repressão.

Meu compadre e companheiro Luiz Trindade ainda continua em pleno vigor cívico? Não tive mais notícias de Trindade e suas lutas. O que sei é que a rádio comunitária por quem tanto ele e os demais lutamos não é a mesma. Digo isso com grande mal estar, assim como percebo que companheiros por quem tinha admiração se revelem medrosos, indignos de assumir suas posições, timoratos diante de qualquer intimidação de um chefezinho qualquer. Chegam até à repressão censória de suas próprias palavras.

Há algo de heróico na resistência de um Marcelo Ricardo. Ao resistir e assumir suas posições, ficou só, mas não deixa de sustentar suas verdades e seus objetivos de vida. A rádio Diversidade, combalida, ainda luta para garantir sua licença para funcionar, enquanto falha o apoio de quem deveria estar nessa fileira de luta.

Luiz Trindade, Marcelo Ricardo, Juliana e tantos outros desse naipe se apresentam como heróis da resistência. Os frouxos e oportunistas não estarão nos anais da História.


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