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terça-feira, 12 de julho de 2011

As calcinhas da vereadora

Um fato testemunhado por mim reflete a índole do povo brasileiro de ser honrado e decente, apesar dos maus políticos que costuma eleger. Na cidade de Mari, um grupo de ativistas culturais e pessoas ligadas à Igreja Católica conseguiram eleger uma moça para o cargo de vereadora nos bons tempos do Partido dos Trabalhadores em sua fase sonhadora. A comadre era de uma honestidade irritante! Quando recebia seu salário da Câmara, fazia questão de reunir a direção do Partido para prestar contas. Tanto foi gasto no aluguel da sede, tanto para despesas de pessoal, tanto para o jornal do Partido,  etcétera. Sobrando um pedacinho, ela fazia despesas pessoais. Nisso entravam até as calcinhas que a nossa parlamentar comprava com seu salário de vereadora.

Nesse tempo eu era um sonhador, o mais ingênuo dos militantes. Achava aquela ação muito bonita, representando um mundo belíssimo comandado pelos membros ativos do meu partido tão puro, e daí projetava uma sociedade onde as pessoas se comportariam igual à nossa vereadora, tão honesta naquele ato ético e singular de botar as calcinhas no meio das contas políticas. Depois tive muita raiva, muita tristeza, muita decepção com meu partido. Mas ficou esse exemplo de honestidade. Diante da história e dos fatos que todos conhecem, eu só lembro das calcinhas da vereadora humilde em contraposição às cuecas cheias de dinheiro indigno dos caras que ficaram no PT para jogá-lo na lata de lixo comum da vida partidária nacional.

Esse papo vem a propósito de um compadre que me abordou: “Fábio, quero colaborar com o Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, como é que eu faço?”. Eu informei o número da conta bancária e tudo o mais. E ele: “Como eu vou ter a certeza de que o dinheiro será bem investido? A quem vocês prestam contas?”. Eu informei ao cara que a gente presta contas ao planeta inteiro, já que publicamos nosso demonstrativo financeiro todos os meses na internet, informando quanto entrou em caixa, quanto foi gasto e onde. Maior transparência, impossível.

Eu faço questão de prestar contas vintém por vintém do que arrecadamos porque somos uma casa educativa e porque não tenho talento nem vocação para larápio. Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério com atitudes de espertalhões, vigaristas e salafrários. Um cara que pega dinheiro destinado ao bem comum para se beneficiar ofende a vida, destrói sonhos, inviabiliza o amor e o leite da creche. Dinheiro comum deve ser claro como as calcinhas da vereadora casta e virtuosa.

Somos pessoas pobres, alguns com nome no SPC, outros sem crédito no mercado, sem fiador e até sem conta em banco, mas honestos. Quando surge dinheiro, a gente paga a quem deve. Nós do Ponto de Cultura estamos devendo uns trocadinhos ao nosso senhorio, mas vamos acertar tudo, com fé em São Judas Tadeu e em Nossa Senhora das Rosas. Talvez sabendo dessa dívida com o aluguel, o moço da Sociedade Recreativa dos Trabalhadores de Itabaiana tenha desistido de alugar o prédio da entidade. Achou melhor locar para um rapaz montar duas mesas de sinuca, atividade que tem mais garantia comercial. Cultura não dá xerém a pinto.

Já o Governo Federal, esse nos deve 57 mil reais, sem esperanças de quitar a dívida. São cincoenta mil para comprar computadores do telecentro, equipamentos de teatro e rádio, realização de oficinas, bolsa para estudantes monitores e sete mil que eu ganhei com a premiação do meu livro “Biu Pacatuba – um herói do nosso tempo”. Tudo indica que levaremos esse calote de dona Dilma Roscoffe. Que saudades das calcinhas da minha vereadora!

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