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quarta-feira, 1 de junho de 2011

Poesia de carregação


Afronta enviada por um leitor da Toca. Pior que ele tem razão!
 Meu próximo livro de poesias terá o título: “Sentença final – tratado poético de amizade, desilusão, esperança, humor, loucura, recordações, saudade, solidão, tristeza e assuntos transcendentais, produzido por um poeta sem eira nem beira que arranca da alma, mesmo sem ter alma, tanta besteira a ponto de empolgar a platéia com suas jogadas sensacionais de autopromoção”.

Será o livro de poesias com o título mais longo da história da baixa literatura em língua portuguesa. Entrarei para o livro dos recordes, a promotora de vendas de livros sem futuro vai levar a “obra” para Paris, enfim, será um su.

No lançamento do meu livro de poemas inúteis, matarei de inveja o poeta deteriorado Maciel Caju, indivíduo consagrado a me espinafrar nas baixas rodas literárias. Para apimentar as vendas do tal livro, providenciarei para a capa composições de cenas de sexo, erotismo mais que vulgar, como reles e ordinário é o autor de tamanha boçalidade. Deixarei as águas rasas do razoável e passarei a nadar de braçada no riacho poluído do estilo sensacionalista, sem me importar com o resultado final dessa mistura grosseira de toscos sonetos, péssimos decassílabos sem ritmo e com rimas pobres de Jó, décimas frustradas, elegias mal ajambradas e glosas infames.

Poeta ruim e mentecapto, afogado nas paixões carnais como mal escreveu o mal poeta Raul Furiatti, descoberto por mim numa cidade da zona da mata mineira chamada Descoberto. Buscarei nas mesas dos bares declarações bombásticas de qualquer bostinha metido a intelectual para fazer parte da “orelha” do meu livro. Já coleciono algumas: “O homem racional não pode viver sem este livro, porque somente este livro dá ao homem racional a necessária orientação para sua vida interior”, frase idiota do meu compadre Ameba, sempre solidário.

Enfim, farei parte dessa confraria dos poetas ruins que tanto material oferecem às traças e aos sebos, quando não servem, os tais livrinhos e livrões, de calço para móveis velhos. Inspiro-me em histórias de fracasso de autores de versos chinfrins que não interessam a ninguém. Sem jamais ter alcançado a criatividade consistente dos verdadeiros poetas, contento-me em ser um poeta menor, débil e obscuro. Mas ninguém tira de mim a glória de ter publicado o livro de poemas com o título mais longo. Não é pouca coisa para um quase nada.

Em suma, minha poesia ruim é muito boa. Compre meu livro e guarde do autor o que ele tem de melhor, que é a consciência de sua imperfeitabilidade. (Esta palavra não existe na língua portuguesa, portanto não use a expressão, a menos que esteja redigindo poesia ruim).

Peço também que não me chamem de poeta, que poeta eu não sou. O escritor Milton Hatoum é taxativo: não existem más poesias ou poetas ruins. Ou se é poeta ou não. O resto é apenas aspiração à poesia. Ou seja, ou o poeta é bom, genial, ou não é poeta. Entendeu, Maciel Caju?









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