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sábado, 4 de junho de 2011

POEMA DO DOMINGO

Edenildo Aquino é um poeta baiano, assumindo traços universais das trevas interiores do paraibano Augusto dos Anjos. A forma pode variar, mas as alucinações de um ser sensível, lúgubre, diante da condição humana é matéria do poema desde que o mundo é mundo. A morte como ato de criação. Ele se inspirou no meu poema “Última sentença”, que por sua vez foi estimulado pelo poeta de Sapé, para construir esse seu lado particular da sombra, também poeta da morbidade, da descrença, da morte.
Augustos


Porque perdemos a luz
Somos urubus
Pousando na sorte do outro.


O que vemos, soa-nos imperfeito
Porque, ao que ouvimos,
podemos acrescentar um pouco nós.


Queremos estar presentes,
Como urubus, espreitando e forjando
O enterro de nossa última quimera.


Desta última querela,
Não sabemos,
Mas ainda temos no bico
A carne necrosada do amigo
que ajudamos a dilacerar.


Somos palavras
E não quereres.
Somos arroto
E não cocacola.


Somos quermesses.
E não santos.


Escolhemos ser o inferno
E não o outro.
Escolhemos o chorume
Que nos banha, perfuma
E acolhe.

Escolhemos a palavra.


Edenildo Aquino

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