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domingo, 15 de maio de 2011

POEMA DE DOMINGO (2)

Viva o gorila!

Fábio Mozart

Quero fazer um poema fragmentado

grosseiro, vulgar e incivil,
dissidente, herege e pedante
como a afetação dos sério-cômicos sociais.


Quero fazer um poema doente,
redundante, pequeno e inimigo,
um poema feito de cacos
de dentes apodrecidos
e enfeitá-lo com distintivos oficiais.

Quero rasgar um poema safado,
absurdo, estúpido e enorme,
com buracos desse tamanho
escarrando no olho do lírico.


Quero editar um poema manchado
com o sangue de um lazarento
e sujá-lo com honras militares.


Quero escrever um poema ridículo
e vendê-lo a preços módicos
nas trincheiras da civilização cristã.


Quero lavrar um poema decadente,
paulatinamente podre,
bombasticamente bosta,
inexoravelmente negro,
monumentalmente miséria
e ofertá-lo em abundância
em qualquer ordem do dia
para a grandeza de nossa ferocidade
e glória da procedência primata.

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