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sábado, 30 de abril de 2011

Zequinha Bandeira segurava a flâmula da democracia

Em qualquer lugar ou circunstância deve-se reconhecer e espalhar o brilho da dignidade humana, nesses tempos sombrios de ascendência dos amorais. Se uma vida nada contém de excepcional ou extraordinário, só o exemplo de respeitabilidade e decência vale a pena o registro.



O eterno escrivão do registro civil José Bandeira Júnior, o Zequinha Bandeira, é um itabaianense que ficou na lembrança do meu pai Arnaud Costa, esse jovem de cabelos brancos e memória notável. Com Zequinha Bandeira, meu pai foi desportista e animador social na Itabaiana de tempos longínquos. Os dois eram apaixonados pelo União Esporte Clube, time defendido pelo zagueiro Edmilson Jurema, um atleta de certa forma indisciplinado. Ao passar dos anos, Edmilson Jurema abraçou a profissão de disciplinador, na condição de professor de educação física. Na época em que defendia o velho União, nem sempre primou pela lealdade nos combates dentro das quatro linhas.


Houve uma época em que Zequinha Bandeira acumulava os cargos de diretor do União e presidente da Junta Disciplinar Desportiva. Ocorre que a Junta reuniu-se para julgar um caso de indisciplina do atleta Edmilson. Colocado o processo em pauta, o digno alfaiate Virgílio de Assis, auditor da JDD, sugeriu pena de prisão domiciliar por oito dias ao atleta infrator. Os sete membros da Junta votaram a favor da proposta de punição esdrúxula, que não consta em nenhuma lei esportiva. O presidente da mesa julgadora, mesmo assim, acatou a decisão do colegiado e seu exótico procedimento. Zequinha Bandeira, para não turbar aquele recinto com qualquer laivo de autoritarismo, que não era do seu feitio, respeitou a decisão e mandou o atleta para a prisão domiciliar, desfalcando seu querido União contra o arqui-rival Vila Nova no domingo seguinte.


Para não melindrar a Junta Disciplinar Desportiva, Edmilson ainda fingiu se trancar em casa por um dia. Depois saiu para brincar sua pelada na beira do rio e treinar no União. Consoante se pode perceber, era Zequinha Bandeira um homem da lei, fosse ela qual fosse. Foi vice-prefeito do médico Santiago. Assumiu por alguns dias o posto de prefeito. Competente e conceituado burocrata, deu conta do recado e cuidou bem da pacata e pequena comunidade itabaianense.

2 comentários:

  1. Olá Fábio
    Agradecemos por suas palavras elogiosas. Incrível aquela pena imputada; até ri muito.Fiquei feliz em saber mais essa de Zé Bandeira.

    Margaret Bandeira

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  2. Prezados

    Apenas para registrar uma faceta, talvez pouco conhecida do, também craque cultural, EDMILSON JUREMA, nosso colega nos tempos do antigo ginásio e científico - Colégio Dom Bosco (1969/70) e o Estadual (1971 a 1975) - que foi o gosto pela leitura da revista VEJA, na época dando os primeiros passos - havia sido lançada em 1968...
    E o Edimilson Pereira Jurema, até onde me recordo, naqueles tempos difíceis, era o único que sempre aparecia com uma VEJA na mão... não me pergunte de quem era a assinatura daquele semanário, nunca soubemos, mas, até hoje, ao receber a revista - não deixo de lembrar os mais de 40 anos transcorridos, desde aquele longíquo 1969...

    Abraços,

    David Andrade Monte.'.
    Executivo em Transportes e Logística
    GOIÂNIA-GO

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