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sábado, 9 de abril de 2011

CARTA DE JOACIR AVELINO


Meu compadre Fábio, depositei 50 pratas na conta do Ponto de Cultura, para ajudar no aluguel. Depois mando mais cinquenta. Se sobrar algum, pague ao velho Rosalvo por conta das cervejas que deixei no prego na década de 80. 

Espero que continuem promovendo a cultura de alto nível. 

A propósito, sugiro como pauta no seu blog, uma crônica sobre Israelzinho de Itabaiana, essa figura que é mais argentino do que brasileiro. 

Um abraço do Joacir Avelino.

Compadre Joacir:

Agradecido em nome da rapaziada do Ponto de Cultura. Quanto ao Israelzinho, o homem agora ta mais gordinho, ainda finge ensinar inglês e história, é tido e havido como grande historiador da cidade, mas continua com aquele jeitão de bisbilhoteiro e mexeriqueiro, uma figura folclórica, estimado pelos alunos e amigos. Tem uma crônica no meu livro “A Voz de Itabaiana e outras vozes” que fala de Israelzinho, chamado para opinar no grande episódio da descoberta de petróleo na cidade. 

Saiba, meu camarada, se você olhar direito, se apurar bem o ouvido, certamente vai saber que Israelzinho é o símbolo de nossa terra. Essa figura tem a indolência que é marca nossa, a maledicência que nos é peculiar. Mas também nosso “argentino” é um sujeito que insiste em trilhar no caminho do bem, com mirabolantes conceitos, sonhos e ideais de humanista. Sua figura subindo a ladeira do Alto dos Currais, descendo o beco da União, batendo o ponto no armarinho de Ribeiro, despido daqueles arroubos juvenis de esquerdista interiorano, hoje é mais um sujeito carismático de quem todos gostam. Deixou até de torcer pela seleção da Argentina. 

Israelzinho foi preso em 64, acusado de participar de um tal Grupo dos Onze. Até hoje ele se pergunta o que diabo vem a ser esse Grupo dos Onze. Por causa dessa mentira que inventaram contra ele, levou até uns cascudos dos milicos. 

Ele agora despreza qualquer espécie de militância, organização coletiva, debate ou o que seja. Faz carreira solo. Deixou de flertar com o Partido Comunista, não fala mais de Deng Xiaoping, acabou o xodó com Che Guevara e nem liga pra Maradona. Quebrar o pau pela ditadura do proletariado, nunca mais. Organizar abaixo-assinado, agitar, denunciar, ficou no passado. Hoje, Israelzinho, bonachão e gordinho, só quer saber de se dedicar à segunda esposa e prosear miolo de pote no balcão de Ribeiro. Vez por outra gosta de conversar com os jovens estudantes. Continua casmurro com certas práticas, feito a dança. Odeia a arte de dançar, acha uma imoralidade.  

Numa coisa não mudou: a aversão pelos Estados Unidos. Foi gringo, é inimigo de Israelzinho. Para ele, somos a República Democrática e Popular do Brasil. Estados Unidos do Brasil é a puta que o pariu!

Um comentário:

  1. Sinal de que nunca é tarde para corrigir os próprios erros. Você também, Fábio, intuo que um dia deixará para trás esses apetrechos ideológicos da esquerda em que acredita. Mesmo assim, espero que não perca a inteligência, a capacidade literária e a vontade de alcançar e defender o ser humano.

    Um grande abraço!

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