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sábado, 16 de outubro de 2010

Ganzá de Ouro vem aí


“Ganzá de Ouro” é o grupo de música regional do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar. Vamos recomeçar os ensaios com o mestre Severino, rabequeiro de Mari, o forrozeiro Orlando Otávio, tocadores de pífano de blocos indígenas e a moçada integrante das raias pontistas. Contamos com a bonita voz de Clévia Paz, o remelexo caboclo de Das Dores e o som de baixo profundo que sai da garganta do compadre Normando Reis. Ainda como solista, o garoto Lucas Oliveira é o sabiá da mata. Eu me defendo nas cordas da viola e Edglês Gonçalves vai ser aprendiz do mestre Severino na rabeca.

Acenderemos a luz da memória para recordar toadas de caboclinhos, pontos de candomblé, aboios, coco-de-roda, maracatu, boi-de-reis e ladainhas do povo do Nordeste. A proposta é gravar CD, mas antes vamos sair no carnaval de Itabaiana no próximo ano, cada integrante vestido com a fantasia de um brincante. Eu vou sair fantasiado de Capitão da Nau Catarineta. Clévia já decidiu que será a Cigana do Pastoril. O cantor e compositor Vital Alves vai sair de índio da tribo Funiô. E vão por aí os extremistas do ritmo popular que queremos ser. Só toca se for raiz e da boa!

Em sendo assim, vamos tentar adiar a morte do carnaval tradição na terra dos “Assombrados da Floresta”, antigo bloco de caboclinhos do mestre Josa que deixou de sair no carnaval por carência de apoio. Sem faltar o boi, que é tradição em Itabaiana, em homenagem ao mestre “Ispiciá”, o maior de todos. Quem é da minha geração lembra o verdadeiro périplo que fazíamos no carnaval, acompanhando o boi de Ispiciá até a praça do coreto, depois voltando com a Escola de Samba Última Hora, do mestre Zé Dudu. Ao final do percurso, todo mundo voltava atrás do mestre Mocó e seus bons selvagens. Isso quando não encontrava pelo caminho os índios Papo Amarelo ou o boi de Ramos de Inácio, tendo à frente a orquestra de Cabo Setenta. Para sair do circuito, tínhamos os Taiobas e o Pão Duro, clubes carnavalescos famosos nas décadas de 50/60.

Quem conhece um pouco do nosso carnaval de antigamente sabe do que estou falando. Essa festa firmou-se como o maior carnaval de rua da Paraíba, até ser dizimada pela praga do carnaval baiano a partir dos anos 90. Veio daí a hegemonia dos blocos particulares, com segregação e exclusão, acabando com a festa popular mais famosa do Brasil. Nesse carnaval, o povão é apenas um espectador de segunda categoria. Deixou de ser protagonista.

É como diz o pesquisador Clímaco Dias: “O trio elétrico foi transformado em mercadoria e instrumento de ganho de capital. Assim nasceu a corda para cercá-lo, e surgiram os blocos pagos. Então, atrás do trio elétrico só vai quem pode pagar.”

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