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quinta-feira, 6 de maio de 2010

Dom Quixote de Mari


Não há como negar: Mari é um dos municípios que mais investem em cultura na região do baixo Paraíba, além de Sapé e São José dos Ramos. Com um dado curioso: em Mari, o investimento vem a custo quase zerado para os entes públicos. Como se dá esse milagre? Pela fé e entusiasmo de um sujeito, emérito filho da terra do folclorista Adauto Paiva, que dedicou sua vida pela difusão e preservação da cultura popular.

Pouco importa que a insensibilidade de alguns não permita o investimento em cultura como seria razoável. Raros são os gestores públicos que compreendem o efeito das ações culturais na imagem de uma comunidade e a respectiva contrapartida em desenvolvimento. Mari, pelos seus artistas e produtores culturais, constrói sua fortaleza de proteção aos bens imateriais e faz com que as novas gerações consumam produtos culturais de qualidade. Sob o amparo do galego da cultura, Neneu Batista, nomeado diretor de Cultura do Município.

Ele não fez como muitos, que pegam o cargo apenas para garantir seu salário. Ganhando pouco e sem quase nenhuma grana para seus projetos, Neneu Batista usa a imaginação, o poder de aglutinar as pessoas em torno de ideias comuns e o amor pela cultura de sua gente para promover cinema, teatro, artesanato, artistas e expressões culturais do povo em inúmeros projetos em benefício do seu centro do universo, que é Mari.

Para ser honesto, tenho também na maior consideração o poeta Antonio Costta, subsecretário de Cultura de Itabaiana, mas este já trabalha com mais autonomia, tem panos pras mangas, como se diz. Graças a ele e a mais alguns perseverantes sujeitos na terra de Zé da Luz, a cultura do lugar ainda não sumiu na voragem do engodo institucional e da irresponsabilidade de quem tem o dever de zelar pelo que é nosso, notadamente o bem maior de uma comunidade, que é sua própria cultura.
Neneu Batista é assim uma espécie de Dom Quixote a acreditar na vitória dos bons contra interesses mesquinhos e mercenários que vêm acabando com nossas tradições culturais mais nobres. Foi graças ao seu empenho que tivemos aprovado o Ponto de Cultura Ligas da Cultura, do assentamento Tiradentes. Mergulhado na ciranda burocrática, o pessoal do “Tiradentes” jamais seria vitorioso na conquista desse importante equipamento de fomento cultural sem o auxílio do Neneu.

Sem comodismo, o galego Neneu Batista segue batalhando pela cultura de sua terra. Sempre na esperança de que a comunidade saia da letargia e os poderes públicos despertem para a necessidade da proteção e difusão da cultura e arte. Nas pequenas ações cotidianas junto ao chamado Terceiro Setor, a Diretoria de Cultura de Mari vem dando conta do recado. É assim que se constrói política pública cultural, com humildade, ouvindo as pessoas. Osvald de Andrade, na “Marcha das utopias”, disse que “no fundo de cada utopia não há somente um sonho, há também um protesto." A luta de pessoas iguais a Neneu Batista é uma forma de indignação pela indiferença dos que poderiam fazer muito pela preservação do conjunto de padrões de comportamento, crenças, conhecimentos e costumes do povo e nada fazem de concreto.

Um comentário:

  1. Caro amigo Fábio, obrigado pela consideração. Eu também admiro muito o seu trabalho em prol da cultura itabaianense.

    Abraço.

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