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quarta-feira, 16 de setembro de 2009
UM INTELECTUAL DE TIMBAÚBA
José Cassiano de Souza foi muito amigo do meu pai, jornalista Arnaud Costa, na cidade de Timbaúba, onde ambos exerciam a atividade de redatores do famoso “Timbaúba Jornal”. Foi músico clarinetista da Banda Euterpina, fundou o Centro Dramático Valdemar de Oliveira, professor, dono de livraria, espírita e poliglota. Faleceu em 1981, com 73 anos de idade.
Duas facetas se sobressaem no timbaubense Cassiano de Souza: seu espírito libertário e seu talento como poeta. Esse meu conterrâneo era dono de uma inteligência privilegiada. Começou a trabalhar cedo no comércio, com 14 anos. Foi trabalhar como balconista, abandonando a escola para ajudar em casa. Aos 48 anos de idade entrou no Ginásio, concluindo o curso de Técnico de Contabilidade na Escola Técnica de Comércio Timbaubense. Sua madrinha de formatura foi sua filha Jandira.
Seu filho Moacir cultua a memória do pai em um site na internet. Nesse espaço cibernético ele informa que “José Cassiano de Souza escreveu muitos artigos, poemas e prosas sobre temas religiosos, filosóficos e políticos, além de assuntos relacionados à sua terra natal, Timbaúba, seus amigos e seus amores. Na década de 40, por ser uma pessoa bastante culta e preparada, passou a lecionar particular à noite em sua residência para atender às solicitações de amigos e ajudar no orçamento familiar, embora tenha ensinado gratuitamente às pessoas carentes que demonstravam interesse em estudar. Espiritualista, acreditava na reencarnação. Era um dos seguidores da doutrina de Alan Kardec, segundo a qual fora da caridade não há salvação. Seu primeiro soneto, escrito aos 14 anos, intitulava-se A Caridade, donde se conclui que com esta idade já era um adepto do espiritismo. Escreveu também vários poemas e sonetos com outros temas religiosos e filosóficos. A simplicidade, a sinceridade, a honestidade e a humildade eram suas principais virtudes, porém jamais se curvou aos poderosos”.
“O Francês era sua língua preferida, tendo feito até poesia neste idioma, além de apreciar o inglês e o latim. Também foi um estudioso do Esperanto, língua internacional, inventada pelo médico polaco Zamenhof, muito estudada pelos espíritas e que no entanto não foi difundida por ser uma língua artificial.
Castro Alves foi o seu poeta preferido. Lia e interpretava as poesias do mesmo para os seus filhos, principalmente O Navio Negreiro da qual ele muito gostava. Era admirador de Victor Hugo, Dante, Guerra Junqueiro, Camões, Bocage, Cassimiro de Abreu, Augusto dos Anjos, José Lins do Rêgo, Manoel Bandeira, Shakespeare, Homero, etc.
De denotada cultura e de grande fluência verbal, a eloquência era um dos dons que o destacava, sendo por isto muitas vezes convidado como orador em várias solenidades oficiais.
Era um grande defensor do Direito e da Justiça, além da moralidade e dos bons costumes, tendo por algum tempo exercido as funções de adjunto de Promotor.
Apesar de ser uma pessoa extremamente politizada, jamais se candidatou a algum cargo político nem subia em palanque para defender partido político ou fazer apologia de qualquer candidato. Os seus ideais e suas ideologias políticas ele defendia em suas poesias, crônicas e artigos escritos em jornais. Era simplesmente um idealista, ou seja, não tinha ambições”.
A FÉ
Para Olímpio Santos
Estranho estado d'alma! Abstração
na qual o humano ser, rompendo os laços
que ao mundo o prendem, ergue aos céus os braços
no anseio de empolgar à perfeição.
Ebúrnea torre mística onde vão
pousar, longe dos térreos embaraços,
transpondo o infindo abismo dos espaços,
as pombas brancas da imaginação.
Escada de Jacob que leva aos céus
o justo que, em demanda da verdade
a idéia busca assimilar de um Deus.
Porta de luz onde a humanidade
da dúvida transpondo os densos véus
penetra nos umbrais da eternidade.
Cassiano de Souza
Timbaúba, set/1942
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