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terça-feira, 8 de setembro de 2009

PARADA MILITAR


Não fui assistir ao desfile militar do Sete de Setembro, por mais que reconheça os méritos das Forças Armadas na preservação de minha liberdade. Sou livre, e deveria festejar isso aplaudindo os soldados que exibiram suas armas, seus tanques e uniformes garbosos na avenida. No entanto, sou um caso raro de patriota que desconfia dessas patriotadas e pavonices marciais. Fui estudante na época em que os militares mandavam em tudo no Brasil, e morria de medo dos meganhas em guerra suja contra jovens desarmados, agricultores famintos e jornalistas afoitos.

Outro dia, no bar do Zé, achei de discutir estratégia militar com um reformado da aeronáutica. Disse que achava uma estupidez a existência de tantos quartéis em João Pessoa, uma cidade que não faz fronteira com nenhum país, amigo ou inimigo, e, portanto, está longe de precisar arregimentar soldados para uma guerra, única finalidade dos exércitos. Melhor seria aproveitar os rapazes nas extensas fronteiras do Norte, rompidas diuturnamente por narcotraficantes e guerrilheiros estrangeiros. O sargento aviador concordou comigo.

Melhor fez José Figuerez - Don “Pepe” Figuerez - Presidente da Costa Rica que em 1948 tomou o poder, derrubando o ditador Rafael Calderón Garcia, instalando a democracia no país. Até hoje é considerado o “Pai da Pátria” por ter a coragem de extinguir pura e simplesmente o Exército do seu país através de um simples decreto. Terminado seu mandato, Figuerez foi para casa, sem medo de quarteladas e golpes militares. Atualmente, Costa Rica é uma democracia estável, próspera e feliz, sem Exército.

Nos anos de chumbo, eu editava em Itabaiana um jornal por nome Alvorada, junto com outros dois malucos: Arnaldo Barbalho e Agnaldo Barbosa. Por ter publicado um artigo falando mal do chefete político local, fomos intimados a prestar declarações no quartel do 15º Regimento de Infantaria, em João Pessoa. Após “chá de cadeira” de mais de quatro horas, o oficial nos chamou ao seu gabinete. Quando nos sentamos, o homem deu um grito, mandando todo mundo ficar de pé. Depois, amável, disse que havia um mal entendido, que aquilo era “coisa de estudante e que o Exército não iria perder tempo com denúncias vazias de políticos do interior”. Mais calmos, fomos enfim convidados a sentar e tomar um cafezinho. Eu recusei, por não tomar café. Os meninos pegaram as xícaras e pires com as mãos trêmulas, devido à tortura psicológica. O militar deu outro grito, chamando-os de comunistas.

--- Estão tremendo porque têm culpa no cartório, comunistas de merda!

Ficou nisso um bom tempo. O cara amaciava e depois nos assustava aos berros e ameaças. Devia ser técnica de tortura psicológica que ele aprendeu com os milicos americanos. Mas a grande gafe foi de minha autoria. Em determinado momento, eu, que nunca servi ao Exército e desconheço essas coisas de patente e hierarquia militar, chamei o homem de sargento. Na qualidade de Capitão, ele quase me bate. A mancada me valeu o apelido: passei a ser chamado de “Sargento” pelos dois colegas sacanas por um bom tempo.

Sim, ainda hoje lembro o título da crônica que causou aquele reboliço todo: “O homem do chapéu grande”. Era um tempo em que os aprendizes de ditadores preferiam quepe a chapéu.

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