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segunda-feira, 21 de setembro de 2009
Foi por uma boa causa...
Companheiro Jairo Humberto, tragicamente desaparecido em 1989, um dos fundadores do PT em Itabaiana.
Esse episódio se passou na cidade de Itabaiana, começo dos anos 80. Foi um ligeiro deslize, mas já está prescrito, conforme entendimento do bacharel e delegado de polícia Joacir Avelino, um dos envolvidos no fato delituoso. Deu-se que um grupo de moços sonhadores e chegados a uma farrinha resolveram organizar o Partido dos Trabalhadores na terra de Sivuca. Naquele tempo, o país saía de uma ditadura feroz, de direita. As pessoas ainda guardavam o medo das prisões e perseguições do regime militar. "A ditadura é um estado em que todos têm medo de um e um tem medo de todos", conforme escreveu o escritor italiano Alberto Moravia.
Sendo assim, ninguém queria se filiar ao novo partido que estava surgindo, liderado por um sindicalista barbudo, mal encarado, nordestino e chegado a uma biritazinha. Só por gostar de cana, Lula já recebia nosso integral apoio. Mas falando sério, o grupo de rapazes começou a enfrentar os tais “trâmites burocráticos” para registrar o partido no Município. Precisava de 70 filiações, no mínimo. Começamos pelas famílias. Cada um procurou converter o pai, a mãe, os irmãos, as namoradas e amigos em militantes petistas. Depois partimos para o campo de guerra, as mesas de bares e pensões. Assim, assinaram ficha desde o bebinho do boteco até a rapariga semi-analfabeta, depois de umas três ou quatro meiotas.
No dia da convenção do partido lá estavam eu, Roberto Palhano, Jairo Humberto Feitosa, Joacir Avelino e mais meia dúzia de três ou quatro gatos pingados e desconfiados. A Justiça Eleitoral escalou o fiscal Ananias para observar a convenção. Ananias ficou meio cabreiro, porque deu meio-dia e não apareceu quase ninguém para votar, ameaçando o quorum. A Comissão convidou então o fiscal para tomar a caninha do almoço na venda do Berto. Foi nossa chance para enviar delegações às casas dos convencionais para colher as assinaturas no livro de ata. Quando o fiscal voltou, já um tanto alegre e expansivo, admirou-se do número de votantes que constava no livro.
--- Foi um caminhão de militantes que veio dos sítios, o pessoal votou e foi embora – explicamos.
Ananias deu o aval, legalizando a Convenção. Depois de uns tragos, nosso fiscal esqueceu o preconceito contra o novo partido, ajudando a legalizar o PT, mesmo desconfiando de que foi personagem de uma farsa.
Percival Maricato, no prefácio do livro “Hic!stórias – Os maiores porres da história da humanidade”, de Ulisses Tavares, cita alguns benefícios da bebida: “Bilhões de vezes, nos últimos milhares de anos, houve declarações de amor e consequente continuidade da espécie com porres homéricos”. Eu acrescentaria que um dos benefícios da bebida também é gostarmos mais da humanidade, até tolerar quem a gente não gosta, e, conforme o episódio aqui narrado, ajudar na organização política dos chamados menos favorecidos na escala social.
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