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sexta-feira, 28 de outubro de 2022

terça-feira, 25 de outubro de 2022

sábado, 22 de outubro de 2022

COMPRE MEU LIVRO E LEVE OUTRO

 


COMPRE MEU LIVRO DE CRÔNICAS – EDIÇÃO LIMITADA

Promoção de Natal antecipado: leva grátis um exemplar do meu livro de Haikai, “Poemas malditos em prosa, verso, gesto e grito” – R$ 38,00 (frete incluso) PIX 10970576404 – Meu e-mail: mozartpe@gmail.com

Já se passaram muitas luas e ninguém comprou nenhum exemplar do meu livro. É deste jeito que vocês querem ganhar a eleição? Prometo autógrafo especial com poeminha personalizado.

 


Poeta em riba do caminhão da poética coletiva

 


Quando o Ministério da Educação se preocupava com a qualificação da juventude pela instrução, através da literatura secular e laica, publicou seleta de crônicas onde reiterava que o mundo é feito de coisas que vemos e que não vemos. O que não enxergamos com os olhos está nos livros. O planeta formidável da criatividade humana pulsa secretamente no meio das letras. É só pegar um livro e descodificar o maravilhoso universo da literatura. “Quem não lê, só vê uma parte das coisas do mundo. E não consegue conhecer tudo”. Hoje em dia, as plataformas das mídias sociais se encarregam de fornecer uma leitura raquítica, deformada e limitada, servindo mais como instrumento de propaganda por inimigos da democracia, da racionalidade, da ciência e da própria leitura.

Já dizia meu compadre Geraldo Caranguejo: “Quem não come, bebe o caldo”. O poeta declamador é o arauto das peripécias da imaginação, o repórter do seu universo, o cara que escreve seu poema narrativo, memoriza e trabalha o conteúdo para adquirir o tom certo, a fim de recitar sua obra para seus ouvintes. Declamar é uma arte. Em uma sociedade sem leitura, a versão lúdica e poética da realidade é levada pelos poetas declamadores. Esses artistas furam a bolha da alienação.

A maioria dos meus confrades e confreiras da Academia de Cordel do Vale do Paraíba gosta de recitar seus versos em público. Temos o poeta ator Sander Lee, orador de voz possante e gestos teatrais que encantam as plateias. Comadre Claudete Gomes, outra atriz, gosta de sair de suas obrigações de professora comum para dar aulas de encantamento nas suas turmas, lendo e interpretando folhetos de cordel.  O mesmo se dá com os professores Manoel Belisário, Pádua El Gorrion, Antonio Marcos Monteiro, Raniery Abrantes, Thiago Alves, Aninha Venâncio e Bento Júnior, mestres da ensinança ordinária em combinação com as lições de poesia e fascínio do gênero cordel.

O meu herói dessa categoria de menestrel, no entanto, tem apenas 24 anos, anda com chapéu de couro na cabeça, uma bolsa a tiracolo onde carrega seus livros e folhetos, razoavelmente caririzeiro, considerando-se universal, porque nasceu em Campina Grande, mas recebeu régua e compasso na cidade de Livramento na Paraíba, onde foi batizado com o nome de José Ferreira de Lima Neto, filho de Ferreirinha, apologista de cantoria de viola e responsável pelo micróbio da poesia popular herdado pelo filho, Neto Ferreira. O bardo fez Filosofia na Universidade Estadual da Paraíba, de onde partiu para desenvolver pesquisas nos temas da literatura popular nordestina e da filosofia da arte estética. Nas horas vagas, declama seus versos e fala sobre o cearense Patativa do Assaré, Leonardo Bastião, os irmãos Bernardino e Olívio do Livramento, além dos irmãos Batista, seus ídolos no panteão dos trovadores nordestinos.  

Neto Ferreira fez pós graduação em estudos sobre patrimônio cultural a partir de Livramento. Para ele, o patrimônio imaterial deveria ser melhor avaliado e reconhecido. Um poeta declamador sai de sua cidade, viaja por sua conta para animar festas culturais nas quebradas do mundaréu sertanejo, e o máximo que ganha é o aplauso da plateia e um prato de sopa com pão seco, pago pela prefeitura. Neto Ferreira é desses que não têm cerimônia. Recita poesia em vaquejada, festa de mãe, cavalgada, escolas, cabarés de ponta de rua, nas praças e feiras de suas quebradas. Sobe na carroceira do caminhão, canta em comício, festa de rua e até em velório. Diante do espetáculo que a cultura popular proporciona, o jovem artista vive para divulgar os encantos poéticos neste mundo cada vez mais desfavorável à literatura escrita.

O moço poeta Neto Ferreira certamente um dia terá seu nome consagrado na história cultural de sua região, nem que seja pela persistência em levar poesia às massas. O apóstolo Paulo, em Atos 17:28, cita um poeta do seu tempo, chamado Arato, originário de Soli, uma cidade pertencente à Cilicia, onde Paulo nascera, que viveu por volta do século III a.C. Arato ganhou fama por sua coragem em pregar o evangelho da estética das palavras nas fronteiras daquele mundo antigo. Era um poeta declamador, como Neto Ferreira, e levava em seu alforje de caçador de almas líricas os escritos de um mundo encantado.

 

 

sexta-feira, 21 de outubro de 2022

terça-feira, 18 de outubro de 2022

NOVIDADE NA RÁDIO WEB DA PARAÍBA

 


Equipe do programa NOTÍCIAS REQUENTADAS, um “pós notícia” que estreia dia 7 de novembro às 17 horas na www.radiodiariopb.com.br com Fábio Mozart, Claudete Gomes e Dalmo Oliveira, técnica de som de Sérgio Ricardo Santos. Ao vivo, com participação dos ouvintes, encarando a realidade brasileira com leveza e bom humor..

Dalmo Oliveira é mestre em comunicação e radialista profissional. Claudete Gomes é atriz, poeta e professora. Fábio Mozart é o locutor que vos fala, com mais de 50 anos de presepadas, fanfarronices e atitudes de gosto duvidoso em rádios comunitárias e livres. Mas, acima de tudo, Fábio Mozart tem sempre um comportamento dentro dos valores da empresa onde trabalha, qual seja a Rádio DiarioPB, uma rádio livre, democrática, respeitosa com as diferenças, e que não assedia moralmente nem o boi, nem o cavalo e nem o vaqueiro das vaquejadas, sobrando sempre fortes estocadas e coices gerais para o dono do espetáculo, ou seja, a tal classe dominante.   

O programa NOTÍCIAS REQUENTADAS é experimental, como quase tudo que se faz em rádios desse tipo. Mas, uma coisa é certa: os miquinhos amestrados dos milicos não irão aprovar a nova atração da grade de programação desta rádio web que se tornou coqueluche na Paraíba. Porque nossa galera transforma em festa e alegria até notícia de velório, e essa gente ruim é dotada de uma certa pulsão de morte, não suporta ver felicidade.

Eu termino assim essa apresentação do novo programa: "Sou meu próprio país. Não sou melhor nem pior do que ninguém porque sou único.” Quem disse essa frase em louvor de si próprio foi Raul Seixas, aquele maluco beleza que toca direto na Rádio DiarioPB, entre outras coisas, porque o programador Sérgio Ricardo Santos é fã e porque as músicas de Raulzito continuam fazendo uma leitura crítica não só do cotidiano da década de 70 como do atual. E é a que se propõe o NOTÍCIAS REQUENTADAS. Se vai colar, a conferir no dia 7 de novembro.  

 

sábado, 15 de outubro de 2022

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Maria Soledade, a Violeta Parra da Paraíba

 


Minha estimada amiga Maria Soledade comemora oitenta anos de vida. A poeta repentista de Alagoa Grande foi companheira de Margarida Maria Alves e Maria da Penha, três marias da luta, três “Nossas Senhoras das Dores dos Mais Fracos”, sendo que as duas primeiras tombaram pelejando pelos camponeses e Soledade continua abraçada à sua viola, dando o tom de festa e de luta no Movimento de Mulheres no Brejo, fazendo a linha de canto das mulheres trabalhadoras de Caiana e todas as meninas do movimento de mulheres da Paraíba. Comparo Soledade com Violeta Parra, cantora chilena considerada a genetriz do canto de protesto e em defesa da cultura popular na América Latina. Nas canções de Violeta Parra se mistura o grito de revolta dos oprimidos e explorados com a defesa e preservação da cultura de raiz do povo latino americano.

A professora Maria Ignez Novais Ayala, responsável por vasto material de registros e memória da cultura popular na Paraíba, selecionou, organizou e apresentou o livro “Nossa história em poesia”, com a colaboração de pesquisadores do Laboratório de Estudos da Oralidade, da Universidade Federal da Paraíba. O livro contém um conjunto de poemas de Maria Soledade e depoimentos pessoais da artista. “Esta publicação, certamente, amplia o conhecimento de uma repentista que dá continuidade a saberes e fazeres tradicionais veiculados por transmissão oral e escrita de gêneros da cantoria e do cordel, além de abordar questões sociais, muitas delas relacionadas à mulher”, explica Maria Ignez na apresentação da obra. O livro foi publicado em 2016. Nele, Soledade conta que nasceu em 1942, no município de Alagoa Grande, situado na microrregião conhecida como brejo. Filha de família camponesa, criou-se em um pequeno sítio que pertencia a seus avós maternos. Ela narra uma história de infância que tem a ver com minha própria meninice na casa de minha avó Joaninha. “Maria da Soledade iniciou suas experiências poéticas na infância com a leitura cantada de folhetos diante de uma plateia comunitária e familiar. Aos oito anos, já lia corretamente”. Aprendi a ler interpretando folhetos de feira comprados pela minha avó e lidos nas suas tertúlias compostas por vizinhos e parentes. Leitor e adaptador do cordel em sua obra, Ariano Suassuna considera a cultura popular como detentora da revelação mais pura e primordial do nosso povo, sendo que a Região Nordeste é o ambiente que preservou aspectos originais, determinantes da cultura brasileira.

Nos oitenta anos dessa criadora e batalhadora, mais de sessenta anos como artista popular e sua viola rústica e tão expressiva, estou propondo à Academia de Cordel do Vale do Paraíba conceder a Maria Soledade o Troféu Violeta Formiga, outra Violeta cantadora das dores femininas e ela própria vítima de feminicídio. A taça é concedida em reconhecimento ao trabalho de mulheres, voltado para a cidadania e pela defesa dos ditames da democracia e dos direitos humanos na Paraíba. Para este propósito, já conto com o apoio da cordelista Claudete Gomes, também amiga de Maria Soledade e minha confreira na academia dos poetas de gabinete.

Há alguns anos, produzi documentário sobre a participação de mulheres nas rádios comunitárias na Paraíba, com foco na Rádio Diversidade do Jardim Veneza em João Pessoa e outras emissoras populares do interior. A direção é de Rodrigo Brandão, roteiro e música de Fábio Mozart, câmera de Jacinto Moreno e iluminação de Lúcio César, com as atrizes Das Dores Neta, Leninha Malheiros e Adriana Felizardo. Nesse filme, aparece Maria Soledade com sua viola, ressaltando o papel dessas emissoras populares para o protagonismo das mulheres e para a democratização da comunicação no país. Outro documento sobre Maria Soledade foi produzido por Leandro Costa como Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em História na Universidade Estadual da Paraíba, em Guarabira, no ano de 2018. Chama-se “Soledade Leite: dos versos à militância, uma trajetória de luta e resistência”.

No meu novo recanto de moradia, no brejo, tenho convivido com outras interlocutoras da cultura popular, entre elas a também oitentona dona Terezinha, contadora de história, para quem dedico um folheto que estou finalizando. Todas essas mulheres são nossas mestras na difícil arte de ser artista e de ser gente. Que a arte espontânea da repentista e feminista Maria Soledade continue por muitos anos nas suas múltiplas estradas brejo afora e sítio a dentro, nos festivais de violeiros, nos “pés de parede” e eventos urbanos e rurais, populares e eruditos, com seu canto artesanal já reconhecido no ambiente universitário, muito graças ao empenho de estudiosos de nossa cultura, a exemplo da iluminada pesquisadora Maria Ignez Novais Ayala. E viva as marias ricas de humanidade e saberes do povo!  

 

 

terça-feira, 11 de outubro de 2022

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Bem aventurados os semeadores livres

 


Sobre a parábola do semeador que saiu para plantar. Contrariando as recomendações dos técnicos em semeadura, o agricultor da alegoria bíblica não preparou o solo nem irrigou o terreno, muito menos ligou pra o manejo e controle das pragas e plantas daninhas. “Enquanto semeava, algumas sementes caíram à beira do caminho, e os pássaros vieram e as comeram. Outras sementes caíram em terreno pedregoso, onde não havia muita terra. As sementes logo brotaram, porque a terra não era profunda. Mas, quando o sol apareceu, as plantas ficaram queimadas e secaram, porque não tinham raiz. Outras sementes caíram no meio dos espinhos. Os espinhos cresceram e sufocaram as plantas. Outras sementes, porém, caíram em terra boa, e produziram à base de cem, de sessenta e de trinta frutos por semente. Quem tem ouvidos, ouça!”, doutrinou Jesus. Então, um discípulo bolchevique questionou a história, acusando o sistema de impedir as ações voltadas para assegurar a distribuição justa das terras, garantindo boa colheita e controle da produção pelos trabalhadores do campo. O Mestre esclareceu que à pessoa que tem será dado ainda mais, e terá em abundância; mas, à pessoa que não tem será tirado até o pouco que tem”. Esclarecida essa premissa, baseada na propriedade privada dos meios de produção com seus respectivos lucros e acumulação de riqueza, o Senhor orientou seus seguidores a praticar a pesca recreativa, de caráter científico, comercial, esportivo ou de subsistência, ensinando-lhes alguns truques de multiplicação dos peixes, milagre também conhecido como farsa ideológica por alguns hereges, porque, conforme esses blasfemos, a lição a ser tirada do episódio é de que o povo tem realmente muito pouco, insuficiente para sua sobrevivência, mas quando entregam suas vidas aos cuidados de um mito ou autocrata, o pouco se torna muito e serve para alimentar as multidões.

Nada disso me veio à mente quando passei a morar no cocuruto de um monte, na aba da serra da Borborema, em uma casinha amarela rodeada de mato, habitação da roça com amplo quintal, sem que eu tenha jamais praticado jardinagem nem cultivação de qualquer natureza. Semelhante ao lavrador inábil da alegoria bíblica, passei a ocupar o tempo me dedicando à preparação do solo, ao plantio e expectativa da colheita, sem nenhum método ou técnica. Fiz como o narrador do livro “O perigo da semente”, de Ricardo Philippsen, que deixava as plantas do quintal desenvolverem-se espontaneamente e rematar seu ciclo de vida sem intervenção do jardineiro. Nada de poda, nem molhar a horta, ou transportar os vasinhos para a sombra, muito menos disciplinar as mudas em canteiros orgânicos. Liberdade para as sementes! Voo livre para os passarinhos soltarem sementes desconhecidas que germinam sem programação nem identificação daqueles vegetais vindos de onde a passarada incuba seus ovos e começa a revoada dos sabiás, por exemplo, com seu canto maravilhoso e variações melódicas que os fazem regurgitar as sementes silvestres de canelas, camboatás, araçás amarelos, babosas brancas, cafés de bugre, goiabas e frutas da condessa. O único predador na área é uma gata que tem medo da única galinha, ave que garante a segurança dos passarinhos, ratos, víboras, abelhas, marimbondos, borboletas, calangos e lagartixas.

Algumas sementes vindas da feira agroecológica do campus da Universidade Federal da Paraíba, em Bananeiras, foram enterradas no pé do muro, sem sucesso. Poucas germinaram. Transferidas para vasos, foram doadas aos vizinhos. O potencial produtivo do quintal é mesmo das sementes selvagens, que simplesmente surpreendem ao aparecer de repente, desabrochando no meio do mato indisciplinado. As plantinhas indomáveis se espalham pelo chão, começam a dar frutos. O jerimum subiu no muro baixo, oferecendo-se aos passantes no terreiro. A goiabeira simplesmente se doando para quem passa. O semeador que sou eu, pensando aqui na utopia. De grão em grão, no devaneio eu retribuo as dádivas da natureza em um milagre humanista, diante daquela produção sem rédea ou domínio, um prodígio de frutos e legumes com o excedente se espalhando no solo de barro vermelho, as ramas entrando de porta a dentro nas casinhas humildes, e como no livro, aquela fartura reuniria os irmãos para o ritual da saciedade, entrariam “em um ciclo de retribuição e gentileza”, enterrando a miséria e abolindo a fome.

Uma em cada três pessoas no mundo passa fome. Desadormecendo, reparo que meu quintal, minha horta não tem legumes superabundantes. Uma flor nasce no canto do muro. É a tulipa, plantinha símbolo do agronegócio. Leio na revista Tricontinental: “As pessoas passam fome não porque somos muitos, mas porque os camponeses produtores de alimentos em todo o mundo estão sendo expulsos de suas terras pelo agronegócio e empurrados para as favelas das cidades, onde o acesso ao sustento depende da renda monetária. Como resultado, bilhões de pessoas não têm como comprar comida”.  

 

terça-feira, 4 de outubro de 2022